quinta-feira, dezembro 20, 2007

Estranhos

Hoje me dei conta, mais uma vez, de quão grandiosas são as pequenas coisas. E eu ainda me pego surpreso e perplexo ao ver como certas ações marcam todo o meu dia, a minha mente e os meus pensamentos. Vi de uma maneira tão singela e bela como simples momentos podem se tornar raros e especiais.
Surpreendo-me de como pessoas estranhas me chamam tanta atenção. Tão desconhecidas e próximas ao mesmo tempo, são sempre elas que me motivam a escrever, pensar e refletir. Concluo que elas também dão um significado para minha vida, e talvez são parte de meu ser, pois é quando as encontro que mais olho pra mim.
E falando nelas, lembro-me que nos tempos de criança, eu passava próximo a essas pessoas que nunca tinha visto e imaginava como seria viver aquela vida observada de relance, apenas por alguns minutos. Aquelas idéias voavam como passarinhos que encontram os seus ninhos, batiam assas por alguns segundos, para em seguida repousarem.
Certa vez, eu estava na casa de meus tios, e ouvi a vizinha escutando uma música que há tempos eu procurava. Uma melodia alegre, que me trazia lembranças de sei lá o que, e sem saber o porquê, eu sempre quis ouvi-la. E claro, tinha que ser uma música antiga, anterior a minha geração, afinal, o passado, como o presente e futuro, muito me encanta.
Assim, não resisti e liguei para a tal vizinha, conhecida como Mirian. Falei do meu interesse pela música, o quanto eu apreciava e a perguntei qual era o nome, afinal nunca tinha visto. Durante nossa conversa eu não sabia como definir a dita musica, pois já haviam tocado várias depois. Então ela pediu-me que cantasse um trechinho, logo, saberia qual seria a musica de meu interesse. Eu, muito envergonhado fiz o que me sugeriu. E ela, muito simpática, disse o nome comentando o quanto gostava daquele som.
Tempos depois, mais precisamente ontem, eu voltei na casa de minha tia e fui escutar algumas músicas. O telefone tocou e eu mesmo atendi. Era aquela vizinha, dizendo adorar as músicas que eu estava ouvindo. Ela as tinha também, mas mesmo assim teve vontade de ligar e compartilhar seu prazer em escutar aquelas melodias, dizendo que já imaginava quem seria o outro ouvinte, no caso, eu. Nossa conversa foi tão curta e mágica ao mesmo tempo. Parecia que nos conhecíamos há anos, falando de nossos gostos musicais tão semelhantes. E depois daquela ligação as músicas pareciam mais belas que antes.
Mal conheço, pouco nos falamos e somos de gerações distintas, no entanto, parece que muito sei ao seu respeito, pois me identifico com seus gestos e ações. E não são somente os interesses musicais que temos em comum, mas a alegria e desejo de compartilhar, mesmo que com um estranho, a alegria de simples momentos.
Somos todos estranhos, cada um, uma incógnita, trazendo consigo uma simples resposta: É somente através do outro que se pode conhecer a si mesmo.



Fábio Ortolano

domingo, dezembro 16, 2007

Todos Perdidos


As lágrimas escorrem como sangue de feridas que nunca fecham. Revelam sutilmente a dor de um sofrimento invisível, camuflado por esperanças jamais atendidas.
Estamos todos perdidos, e o pior, deixando ir embora a nossa própria essência, condenados a um futuro mesquinho a qualquer ser vivo.
E para nós, seres racionais, cabe a reflexão e o pensamento. Porque é pensando que nos deparamos com a grandeza ou miséria de nossa existência.
Choramos todos por não sermos enxergados, cada vez mais sozinhos e vazios. A intolerância supera a compaixão, o preconceito ultrapassa o respeito, o egoísmo se sobrepõe ao amor.
As pessoas passam ao nosso lado sem que ao menos a notemos, estamos carentes de contato. Todos gritam na ânsia de serem ouvidos, no entanto, esquecemo-nos de escutar o que nos falam.
E é uma pena que continuemos parados, fracos e covardes. Apenas olhamos as lágrimas caírem, intactos, acuados e impotentes. Sem até lembrarmos de que um dia essas feridas deveriam cicatrizar. Quando é que compreenderemos o valor da humanidade, e assim, lutar por ela?
Vivo o presente sem jamais esquecer o futuro, para que o amanhã não seja somente nostalgias do que vivera no passado.

Fábio Ortolano