quarta-feira, maio 21, 2008

Fuga


Embora se pareça escuro, os lábios traçam a alegria da esperança, expressa num sorriso frágil.

(...)

Ele esconde no grito o medo do seu silêncio, foge do espelho na angústia de não se ver, pensa em tudo para se esquecer de si e da própria vida.
Ele parece velho perante os outros, e assim o reconhecem, esconde na aparência de fortaleza a fragilidade de um menino que não queria crescer tão rápido.
Ele sofre, mas não chora, pois as feridas de tempos passados o tornara frio para as próprias dores. Está preso e por mais que busque não consegue a liberdade.
Ele permanece em constante fuga: Escreve, sonha, milita, idealiza, cria e conversa, sem saber o porquê. Contudo tem motivos para não se olhar e se encontrar.




Fábio Ortolano


"Um dia desses eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar". (Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, maio 02, 2008

Música aos surdos

A bruguesia... Seus membros se limitam apenas em seus círculos de sociabilidade, não se misturam, e tão pouco, interagem e compartilham com os que estão fora de seus guetos.
Estamos apenas interessados em divulgar e abrilhantar o que nos pertence. Ficamos restritos aos nossos insignificantes grupos, e para piorar, poucos deles se comunicam. Diante dessas realidades vergonhosas que nos afrontam, alguns, da mesma classe, tentam maquiar verdades que se tornam feias demais ao olharmos no espelho, e eu, parte do grupo, me rendo perante tamanhas imoralidades, do meu também medíocre ponto de vista.
Todos cantam cada vez mais alto, embora rodeados por surdos. E no ponto mais elevado que chegam, no máximo conseguem que se escute um trecho de suas canções.


Fábio Ortolano
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O Mundo é um Moinho
( Cartola, que além de músico e compositor, foi um pedreiro poeta )


Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.
Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés