quarta-feira, novembro 09, 2011

SOBRE OS ACONTECIMENTOS NA USP

Caro leitor, confesso que em meio a tantas opiniões chego à certeza de que as pessoas não estão falando da mesma coisa. Aliás, não é para menos. Um fato pôs em discurso inúmeros questionamentos a beira de uma explosão. Alguns ensaiam dar as respostas para que, posteriormente, venha confortar o ponto final.
Contudo, para nossa felicidade ou infelicidade, dependendo da ótica que olhamos, a experiência e história humana jamais terão uma pontuação que as limite no tempo, tudo é processo. Assim, não me preocupo em saber quem está certo, meu esforço nesse artigo é refletir quais são esses questionamentos que estão nos vindo à tona.
Faço isso, pois acredito que ninguém que luta por uma causa, seja nos moldes que for, deva ser tratado como vândalo ou delinqüente, por que acredito, também, que um coletivo, em hipótese alguma, pode esquecer-se de que suas bandeiras não devem limitar-se a benefícios em que apenas seus pares sejam beneficiados.
Em pauta nas discussões sobre os acontecimentos da USP vejo posicionamentos em relação ao controle do Estado, ao acesso nas universidades públicas, à concepção de crime para o uso da maconha, à gestão do movimento estudantil na atualidade.
A respeito do controle do Estado e a partir da força policial, penso que cada comunidade deve escolher a forma como quer ser organizada. O argumento de que o policiamento é necessário cai por terra se compararmos o índice de criminalidade e violência na universidade e fora dela.
Não se trata de uma visão simplista pelo desejo de um "baseado", e sim um direito de liberdade, inclusive, de ser responsável por suas próprias escolhas. A maconha sempre existiu nos contextos universitários e em muitas culturas ela é utilizada, mas diante de um cenário conservador ela é vista como um pecado para que os pecadores sejam julgados. Bem, há de se considerar que, por ser ilegal, movimenta um mercado paralelo oneroso a toda a sociedade, entretanto, o comércio legalizado também me assusta, considerando o poder que a indústria farmacêutica tem hoje na sociedade brasileira.  Temos que refletir.
Outro ponto, é que não querer identificar-se como indivíduo é também mostrar-se como um coletivo, uma força conjunta. Não só os estudantes não quiseram se identificar, os agentes da Polícia Militar também não estavam identificados, como deveriam estar.
Com relação ao acesso, é certo que o burguês tem mais chances de entrar hoje numa universidade pública, haja vista o descaso crônico com a educação fundamental e ensino médio por parte de governantes como Geraldo Alckmin que por anos esteve à frente do governo do estado e hoje manda a PM na USP. Por outro lado é bom deixar claro que muitos alunos de baixa renda, de diversas partes do país e extratos sociais estudam nas inúmeras universidades públicas Brasil afora, tal como na Universidade de São Paulo. Às vezes me parece que afirmar ser a USP um espaço da elite é reforçar um poder de classe, como se fosse uma comunidade homogênea, uma casta superior. Não é!
Será mesmo o burguês que, sem ter o que fazer e sustentado pelos pais, procura um movimento sem causa? Podemos resumir assim? Nos meus anos de graduação não via esses “playboyzinhos” preocupados com isso não, aliás, muito pelo contrário, por suas condições mantinham-se em posição de conforto, não participavam de assembléias, raramente se dedicavam às programações de interesse público e coletivo e pouco se importavam com as transformações na universidade e suas responsabilidades frente à sociedade que a mantém. Apenas preenchiam seus currículos acadêmicos para ostentar o título de sua profissão e universidade, como uma marca. Não é a toa que as faculdades e Institutos da USP com os cursos mais concorridos, onde certamente concentram os tais filhos de papai, são sempre os últimos a aderirem um movimento.
O fato, como bem posiciona Clara Roman, na Carta Capital, é que o movimento estudantil, dividido em tribos enfrenta radicalismos. A comunicação dentro da própria comunidade está difícil, um reflexo da sociedade de hoje, do individualismo, da despolitização, da falta de interesse pelo coletivo, pelo público. Uma conjuntura social prisioneira de uma crítica pontual.