quinta-feira, abril 28, 2011

Ao prefeito Diego De Nadai

Ao saber que nosso prefeito tinha uma página virtual hesitei em fazer-lhe uma visita por conta de um medo de indigestão. E posso dizer que eu estava certo, mas as informações não são apenas indigestas, elas causam ânsia. Ânsia por vomitar todas as respostas e palavras de revolta em ver a demagogia e marketing barato de políticos como o que aponto nesse artigo.

Começa pela biografia, sua “trajetória de vida pessoal e política”. “Um jovem expoente da política de São Paulo”, eleito prefeito com “x” votos, escolhido um dos vereadores em 2000 aos 20 anos e candidato a deputado federal. Como assim? “Expoente” por isso? Quais foram suas causas, as bandeiras pelas quais militou, os coletivos que representou e as obras que realizou?

Não depois de empossado num cargo público, é claro, pois estas estão bem divulgadas nas inúmeras placas pela cidade. A propósito, senhor prefeito, gostaria que investisse o dinheiro público em outras obras, pois chega ser incoerente sua ação. Se eu, um cidadão, estou transitando por uma praça que foi remodelada, não preciso que me digam que ali foi feita uma obra, eu vejo! E aqui vai uma orientação, “revitalização” não pega bem, não há nada morto ou sem vida para políticos ilustres e oportunistas darem novamente vida.

Voltando ao site, “Gente é pra brilhar... Gente é pra ser feliz”. Que gente? Explica-me isso. O que quer dizer com essa frase de impacto? Qual é o conceito de felicidade que o senhor e seu publicitário têm de felicidade? Olha, objetivamente, para alguém brilhar precisa primeiro ter assegurado: alimentação, saúde, educação e lazer. Será que todos os munícipes de Americana estão contemplados com esses direitos para brilharem? Ou o senhor acredita que todos podem pagar um marketeiro que cuide da sua imagem?

Na página tem também as fotos do prefeito. As legendas são transcrições perfeitas das típicas ações dos políticos de Platão. Um jóia na unidade móvel entregue aos bombeiros, um aperto de mão com um empresário, um passeio e sorrisos em meio a criançada. Isso é bonito, dá credibilidade. Não importa que tudo isso é fruto dos altos investimentos, vulgo impostos, que a população confia nas mãos dos governantes.

Caro prefeito, não fale de si, deixe que façam por você. A verdade sempre vem à tona. Falarão bem, falarão mal, infelizmente é assim. Mas você, um gestor público, não pode jamais usar de benefícios oriundos de seu status para construir ou difundir uma imagem pessoal.

quarta-feira, abril 27, 2011

Postagem número CEM: Mais um sistema falho

São em momentos como o que acabei de vivenciar que busco encontrar toda calma e paciência que minha sã saúde mental pode me proporcionar. Mais um sistema falho? Será que minhas expectativas e demandas são incompatíveis com os serviços que esta sociedade tem a ofertar?

Sete dias atrás uma moça me liga enquanto eu dormia e me oferece uma assinatura grátis da CATHO. Eu disse que não tinha interesse, mas isso não foi o bastante pra ela. Assim como grande parte das meninas e meninos do telemarketing ela deve ser orientada a por goela abaixo todas as informações repassadas em seu treinamento até que, por cansaço, ela atinja seus objetivos: Efetivar uma venda, uma assinatura, uma benevolência.

E não haveria outra palavra que melhor explicasse sua ação que “benevolência”. Eles oferecem tudo de graça! Você só não pode esquecer-se de cancelar a assinatura sete dias depois, afinal, você tem muito tempo para desfrutar dos serviços e lembrar que tem de cancelar - Deus criou o mundo em sete dias!

Mas vai que você não seja tão ágil e rápido quanto à figura celestial e por um deslize esqueça de cancelar seu "benefício", mantenha a calma, pois já era, meu querido! Nem uma hora a mais! Seu tempo é finito. E não há como reverter isso. O sistema não aceita. E não adianta não usar ou nem ter usufruído dos serviços. Você deve pagar, por que o sistema é assim. Não questione, é assim! Entendeu?

Prejuízo: Pagar pelo plano que você pagou, o mais curto é 15 % do salário mínimo! E não fique inconformado, o atendente diz que a empresa não quer prejudicar o cliente. Imagine se ele não afirmasse isso?!

Saldo: Refletir sobre as estruturas responsáveis por sistemas tão falhos.

sexta-feira, abril 01, 2011

Habilitação manicomial

No início de janeiro iniciei meu processo de habilitação mental, digo, de conquista da CNH – Carteira Nacional de Habilitação. Deve ser uma nova política pública de saúde mental aplicada pelo governo do estado de São Paulo.

Como nós sabemos, haja vista nosso cenário local, as autoridades são e estão sempre preocupadas com fraudes, ilegalidades, corrupção no espaço público. Aliás, isso é um orgulho nacional, a atenção com o bem estar do coletivo. E assim devem pensar nossos representantes que propuseram a reforma no sistema do DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo. Não querem mais a compra de habilitação, mais uma prática do oportunismo barato de indivíduos que até podem acreditar no significado de cidadania, mas não o colocam em prática.

Pois bem, qualquer pessoa com o mínimo de censo crítico teria inúmeras interpretações sobre tal contexto de mais burocratização do serviço público. Porque convenhamos, preocupação com fraudes e falsificação de documentos e cartas de habilitação não é! Só seria isso se fosse uma política para inglês ver. Aumentaram o número de aulas, os procedimentos de avaliação, a centralidade de serviços e, obviamente, os custos. Ah! Esses, sim, elevaram-se em progressão geométrica. Para onde são canalizados, não sei. Para toda essa burocracia criada? Será?

Ah, não sejamos ingênuos. Os procedimentos de avaliação são severos, didáticos, aplicados por profissionais bem capacitados. Afinal, para dirigir é preciso estar habilitado aos moldes do que se coloca como saúde mental e psíquica.

Você enfrenta filas consideráveis, sistema ineficiente que funciona quando suas limitações não o impede de trabalhar e trabalhadores a beira de um surto por carregar as respostas dadas a todo esse desrespeito ao cidadão. Mas fique tranqüilo, o professor do CFC – Centro de Formação de Condutores te orientará a rezar. Já falo dele, por que antes você passa pelo psicotécnico.

Para ir até o psicotécnico, certifique-se como anda sua saúde mental e vá até um daqueles médicos que te dopam de anti-depressivos e tudo está bem. A medicalização da vida é tão confortável quanto a prática manicomial mesmo. Dane-se qualquer reflexão sobre nossas ações. Fica a dica. Será preciso!

Lá você encontrará uma profissional que fará comentários preconceituosos sobre sua origem, lerá suas respostas em vós alta para todos da sala, questionará sua inteligência e capacidade psíquica de modo que todos escutem. Fique calmo se você for tímido e tiver uma formação superior, pois pra você ela possivelmente dirá que é determinado, certeiro e independente, mas se não tiver um curso superior ela pode se sentir mais a vontade em questionar suas respostas. Bom, ela deve ser muito experiente e pós-graduada no assunto, porque só com um dos testes ela já te fala e faz tudo isso.

O próximo passo é esperar mais um tempo e iniciar as “aulas” no CFC. Aí você encontrará aquele professor que te falei. Ele é divertido, começa com as piadas desde os primeiros minutos de apontamentos. O humor é sua ferramenta para didática da aula. Admiro os professores que possuem esse dom. Novamente você será testado. Tudo bem que cada um carregue seus preconceitos para si, mas um educador não pode, em hipótese alguma, retroceder anos de lutas de movimentos que militam pelo respeito e dignidade. O tal educador faz comentários homofóbicos, revelando sua intolerância e incapacidade de lidar com o diferente. São inúmeras as piadas e brincadeiras sobre mulheres e associadas às relações de poder e gênero. Ele, assim como quase toda a turma, deve acreditar que isso seja apenas brincadeiras insignificantes.

Eu, sinceramente, gostaria que ele e os demais soubessem dos inúmeros casos de jovens adolescentes que se suicidam. Que a cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil. Foram 250 mortes registradas só em 2010. Mais de 1 milhão de mulheres são vítimas de violência doméstica no país, segundo o IBGE. 68% das vítimas sofrem lesões corporais, 57% são agredidas todos os dias e 70% dos agressores são seus maridos/companheiros/ex-companheiros (Sec. Políticas Públicas para as mulheres). De acordo com o Instituto Sangari foram quase 40 mil mortes registradas em dez anos. Isso significa mais de dez mortes por dia. Queria ainda que soubessem que são essas piadas e brincadeiras insignificantes que constroem e afirmam essa cultura machista perversa a toda humanidade.

Habilitar-me para dirigir tem sido uma experiência manicomial.