domingo, janeiro 29, 2012

Alice no país das maravilhas

A pesquisa Datafolha, realizada nos dias 26 e 27 de janeiro na cidade de São Paulo, aponta que 82% da população paulistana aprova a operação da polícia na cracolândia.  E contrariando a idéia leviana e politiqueira de muitos, mesmo dentro de qualquer categoria (partido político, idade, escolaridade e renda familiar) a aprovação estava muito acima da rejeição.
Não só a comprovação de uma visão alienada das realidades contidas em cena, essa pesquisa mostra o valor policial, do controle em nossa sociedade, a qual sempre precisa ser vigiada, punida e castigada. Revela nossa ignorância e menoridade em tratar das pautas e interesses coletivos. A ausência de maturidade para enfrentar o caos nos traz um preço alto enquanto civilização – a morte e opressão de muitos homens e mulheres.
A questão vai muito além do tráfico de drogas, afinal, nesse país quase tudo se comercializa às avessas, e mais, causa dependência física e psíquica. Exemplificando, o tráfico de influências, a indústria farmacêutica, o comércio da fé. E o argumento do Estado, aprovado pela maioria, é o combate às drogas.
De fato, a dependência de substâncias como a cocaína e o crack traz inúmeros malefícios tanto aos sujeitos, usuários e familiares, quanto para a comunidade, haja vista as conseqüências como o crime organizado, as demandas dirigidas ao SUS, etc. Mas isso não é uma exclusividade dessas drogas, considerando os danos que as gorduras, os açúcares, os remédios, os parlamentares e os fundamentalistas causam também aos indivíduos e sociedade.
 Assim, imaginem se resolvêssemos aplicar o mesmo tratamento aos hipocondríacos, aos políticos e aos fundamentalistas religiosos. Certamente entraríamos numa guerra civil crônica.
Os resultados supostos para a ação deixam claras as intenções: marginalizar e invisibilizar os problemas sociais.  Pois, 82% dos entrevistados também acreditam que a operação fará com que os usuários busquem o crack em outras regiões da cidade.
Essa pesquisa desvenda que as pessoas não querem tratar do problema e sim projetá-lo na periferia e controlá-lo. Assim é mais fácil, não é? É tão mais simples por cerca elétrica no muro, por seguro no carro, pagar um bom plano de saúde, não é mesmo? Discutir políticas públicas, pautas e problemas de interesse coletivo requerem tanto tempo, vontade e concessões. A maioridade é tão pesada que o melhor é nem ver e discutir isso. Assim, é como se não existissem os conflitos e as crises sociais. Bom mesmo é não deixar a menoridade e viver pra sempre no país das maravilhas.