quinta-feira, fevereiro 09, 2012

A liberdade do oprimido

A sociedade contemporânea, sobretudo uma conjuntura social de classes, tem suas ironias e contradições: O opressor, pela necessidade de se manter no poder, restringe e sufoca sua experiência de vida. A ânsia em oprimir e o medo de perder uma posição de conforto deixam os sujeitos presos a um único modelo penoso a todos, um exemplo quadrado como sua própria consciência de si. Já o oprimido, pelo simples fato de apenas resistir à opressão, se vê mais livre de determinadas amarras. Não que este não sofra, só é mais franco em algumas situações. Sua subversão confere o bônus de não viver à custa de uma ordem e um padrão estabelecido.
Hoje escutei um comentário de uma mulher que dizia não adotar um cachorro vira-lata, pois o marido só queria se fosse um de raça. Tava na cara que essa era a opinião dela, mas projetou-a ao marido. Diante de uma situação constrangedora para uma doce e nobre senhora, desculpou-se dizendo não ter preconceito.  Sua filha, uma pequena de aproximadamente sete anos, foi embora da clínica veterinária chateada por não levar o casal de filhotes que estava nos braços. Penso no que essas mães ensinam aos seus filhos.
Minutos depois, indo para casa, estive atento a conversa de duas moças no ônibus. Pareciam colegas e comentavam sobre o tempo abafado. Uma delas falava rindo à outra que montaria uma piscina em casa e que nadaria o quanto antes, pois os ratos roeriam o plástico. Não só a amiga, mas várias pessoas riram da espontaneidade da passageira ao relatar sobre seu momento de lazer, inclusive eu e uma menininha ao seu lado. Sua falta de pudores não só deixou-a liberta como trouxe o que há de mais interessante entre os humanos, a identificação com o outro. Pois naquele calor, todos certamente gostariam de fazer o mesmo.
Sustentar um status é ilusório, pois demanda uma força sobre humana, que precisa estar sempre antenada, ligada, quase persecutória. E como o status é performático, se desmancha com o tempo e dissolve-se nas ações.  No mínimo, quem busca sempre alimentá-lo, perde sua autenticidade e vive enjaulado. Isso me faz recordar uma charge do Laerte, em que retrava o consolo dos prisioneiros. Na reflexão ele mostra um passarinho preso à gaiola, que fica aos gritos taxando todos os estereótipos marginais ao padrão de poder: “Gorda, feia, viado, preto, aleijado, anão, pobre (...)”.
A opressão é a fuga dos cárceres da ignorância. E para a última, não há fiança que lhe pague.