quinta-feira, setembro 25, 2014

A morte de Sócrates na contemporaneidade

            Um dos grandes filósofos da antiguidade, Sócrates (469-399 a.C.), acreditava, em linhas gerais, que a filosofia não ensinava nada, mas ajudava o sujeito encontrar a verdade por si mesmo. “Sei que nada sei” é a máxima que rompe com nossa arrogância em acreditar que o que dizemos é o que realmente é. Suponho que se Sócrates estivesse no atual cenário certamente beberia a cicuta, veneno que o matou na antiguidade.
            Transitando por três tipos de instituição de ensino, uma pública, outra privada e a terceira do sistema S., percebo que, para além das diferenças e particularidades de cada uma delas, quando falamos de uma racionalidade operante das práticas sociais, o mesmo modelo se impõe em todas elas. Numa faço mestrado, noutra minha segunda graduação e na terceira atuo como educador.
            Apesar de considerar todas aquelas constatações que já sabemos no senso comum, de como estruturalmente essas instituições constituem suas comunidades, atravessadas por uma lógica de classe, privilégios e formas de dominação, quando legitimamos as autoridades nos espaços de educação; penso que temos um desafio: estabelecer um diálogo entre “papagaios burros”, termo que empresto do prof. Fábio Camilo Biscalchin e sugiro a leitura de sua obra.
            Na sociedade contemporânea do imediato, baseada no espetáculo e na performance, não há espaço para a reflexão, não é mesmo, caro leitor? Quantos de nós, concomitantemente à leitura de uma matéria nas redes sociais e mídias eletrônicas, já colocamos nossa opinião? Todos querem ter a verdade e compartilhá-la. E já dizia outro filósofo, mais contemporâneo, Foucault (1926-1984), que o poder está em todas as pessoas e relações.
            Não é que essa moção pelo compartilhamento de ideias não seja importante, tão pouco que todos possam apresentar seu posicionamento, afinal a democratização do conhecimento e da participação é um princípio ético para a vida em sociedade. O problema é quando nos esquecemos que é preciso pensar.
            Infelizmente, nessas instituições de ensino vejo esse paradoxo: uma repulsa ao pensamento, quando o objetivo é a formação. Assim, naquelas escolas de ensino que denominamos “superior” queremos a crítica pronta e o método que legitime a nossa verdade e produzimos saberes como sapatos, já em outras observamos o consumo do conhecimento, quando em toda aula prima-se pelo espetáculo e platéias contagiadas e noutra acolhemos sujeitos que, numa formação técnica, buscam práticas e procedimentos que os transformam em máquinas, peças sem subjetividades, sem valor moral e humanidade.

            Retomemos Sócrates, pois é preciso uma vida com pensamento!    

quarta-feira, setembro 10, 2014

Eleições 2014 e o reacionário interior de São Paulo



            Curioso pensar como o cenário político das eleições 2014 mudou após a morte de Eduardo Campos. A estabilidade de Dilma, a queda de Aécio Neves e o levante de Marina Silva. Afinal, quais são os motivos que levam os eleitores escolherem seus representantes? E por que o interior de São Paulo é tão reacionário, configurando-se como um dos locais de maior força dessa reviravolta abrupta? 

            Ao que me parece, simbolicamente no imaginário social, a morte do candidato à presidência representa uma metáfora do luto pelas mazelas cotidianas, oportunamente trabalhada discursivamente por aqueles que buscam a condução das massas. É a promessa de vida! Pois tudo, a partir de então, será diferente. O assassinato diário dos cidadãos pelo sucateamento dos serviços públicos e redução do Estado é abafado por falas fantasiosas, promessas vazias e sem sentido na atual conjuntura.

            Ignorância e contágio emocional caminham de mãos dadas. E já dizia Le Bon, pensador do final do século XIX e início do XX, muito relido em tempos atuais, “as massas se tornam burras”. Essa volatilidade dos eleitores, entre outras coisas, aponta para uma falta de consciência política, visão holística e da totalidade. É proposital: os rebanhos não conseguem transpor os limites do curral.

            O interior de São Paulo tem muito que amadurecer politicamente, pois ainda não rompemos as cercas do curral. Somos reacionários às transformações reais. Falamos de mudanças em esfera nacional e mantemos há mais de 20 anos a mesma gestão no estado de São Paulo. Uma incoerência, não? A suposta defesa da mudança e do novo é uma farsa e falácia, pois aqui, na maioria das vezes, nos posicionamos junto às forças hegemônicas. Olhemos para nosso cenário! Transferência do espaço urbano ao mercado imobiliário e especulativo, manutenção das antigas formas de reprodução do capital, inventivo a uma indústria obsoleta, políticas sociais e de cultura à deriva, etc.

            Convido o leitor e eleitor que acredita nessa promessa do novo fazer um exercício: pensar o que é esse novo e quais os caminhos efetivos para a mudança, pois não podemos ser incoerentes e rasos. Isso é descompromisso. Falar em pautas consensuais, como educação e saúde, é tão óbvio  como rezar uma missa com a paróquia cheia. Não sejamos ludibriados e tenhamos motivos claros e coerentes para votarmos, isso é um compromisso nosso enquanto cidadãos.