Três fatos,
dentre inúmeros recorrentes nos últimos dias, podem nos exemplificar um levante
conservador que estamos vivendo no país. Isso é um problema ao
multiculturalismo e eu explico.
Nessa semana
um cara na academia disse, sem qualquer pudor social, que mulher deveria obedecer
ao marido, dar-lhe sempre carinho sem reclamações e que o homem é a autoridade
no lar, devendo ela apenas cuidar dos filhos, pois essa é sua obrigação “natural”.
Acrescentou que feministas são chatas e mal amadas. Todo seu discurso estava
atravessado de ignorância e rancor, desqualificando as mulheres como sujeitos
morais. Para quem queira saber mais, até 1800 se explicava a mulher como o sexo
invertido, inferior. Depois, passou-se a explicar a distinção dos sexos e dos
gêneros, colocando-a presa no lar, no privado, enquanto os homens são educados
para o público. Tudo isso, nada mais é que construções discursivas para
exercício do poder e da dominação.
Em 07 de
julho foi aprovada uma lei que institui a leitura da bíblia diariamente em
escolas públicas de Nova Odessa pelo legislativo local. Curiosamente, na mesma
semana uma igreja em Sabará, Minas Gerais, foi invadida e depredada por
evangélicos que alegaram serem contra o culto a santos. É uma nova colonização
e imposição de valores, tal como quando os europeus vieram catequizar os índios
e, praticamente, extinguiram sua/nossa cultura. Fez bem o prefeito em vetar,
uma vez que o Estado é laico e não podemos acatar uma crença como
hegemônica.
Esses dias
um conhecido destilou todo seu preconceito numa rede social ao ler uma postagem
na qual digo que a funkeira Valesca
Popozuda é uma diva, pois para ele, a cantora é uma puta. Valesca aparece numa
foto lendo Madame Bovary, de Flaubert, uma obra do século XIX que conta a
história de uma mulher que, mesmo sonhadora, não se submete às imposições de
uma moral hipócrita. Bem, mas ainda que ela fosse puta, que não é o caso,
poderia sim ser diva. A divindade é um significado social.
Tais fatos
representam uma afronta ao multiculturalismo, que diz da coabitação de
múltiplas culturas num mesmo lugar. E, em linhas gerais, cultura é um conjunto
de práticas, crenças, valores, manifestações artísticas e intelectuais transmitidos
entre gerações. Não existe uma mais
importante que a outra. Num mundo tão diverso como o nosso, as religiões, os
modos de viver e as subjetividades de cada indivíduo devem ser respeitados e
salvaguardados. Não faz sentido falar em alguém que deve submissão a outrem,
nem em imposição de uma crença, tão pouco julgar aquele que não conhecemos.