domingo, junho 24, 2012

"Pau Mole" (Maria Rezende)


Adoro pau mole.
Assim mesmo. 
Não bebo mate, 
não gosto de água de coco, 
não ando de bicicleta, 
não vi ET 
e a-d-o-r-o pau mole.
Adoro pau mole, 
pelo que ele expõe de vulnerável 
e pelo que encerra de possibilidade.
Adoro pau mole, 
porque tocar um pressupõe a existência de uma liberdade 
e uma intimidade que eu prezo e quero, sempre.
Porque ele é ícone do pós-sexo 
(que é intrínseca e automaticamente - ainda que talvez um pouco antecipadamente)
sempre um pré-sexo também.
Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.
É dentro dele, em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
que mora o pau duro e firme com que meu homem me come. 

sábado, junho 23, 2012

Que a prece seja verdadeira, pois o desejo é leviano.

Os passos diários nos marcam por apontarem o destino. Destino este que insistimos em olhar com receio, inseridos nessa cultura que nos constrói ariscos a ele. O caminho não é a única razão que nos põe em movimento, é talvez apenas a novela que escolhemos encenar. E esta não é a única que possivelmente assistiremos enquanto espectadores protagonistas.  O exercício constante de encarar a cena com o riso sustenta-se em saber que teremos o direito de chorar, de viver o drama, pois a comédia e o romance não nos bastam enquanto atores em aprimoramento.
 Assim, talvez não seja a materialidade das coisas que nos alimenta, mas a imaterialidade da vida que nos sustenta.  Essa contraditória força que nos domina cotidianamente - entre o que nos parece objetivo e subjetivo - é parte do que somos e da forma que existimos. Não é a necessidade de viver que nos move, mas o medo de olhar para a certeza que temos. Aproximar-se do epílogo envolve-nos aos clímaces da nossa trama.

Eu só aceito a condição de ter você só pra mim. Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir”. (Los Hermanos, Sentimental)

quinta-feira, junho 07, 2012

16ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo


                  Acontece no próximo domingo (10/06) a 16ª edição da Parada do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de São Paulo. Um dentre tantos eventos, de diferentes tipos - que acontecem diariamente não só na capital paulistana, mas em diversas cidades dos estados brasileiros e pelo mundo a fora.
Alessandro Soares da Silva (2008) fala de movimentos e não movimento LGBT. Seja na perspectiva acadêmica, da militância, da visibilidade e até da festa os movimentos sociais não são, como muitos significam, algo institucionalizado, normatizado, estático. Seu nome já revela seu caráter de transitoriedade, de ação em processo.
Pensar em movimentos sociais requer uma atenção para além das estruturas sociais, dos contextos partes de um sistema. É preciso que se relacionem os significados e sentidos de todos aqueles que constroem o movimento, ou seja, tanto dos que participam nas ruas, escolas, universidades, ONGs, quanto daqueles que falam a respeito. Os discursos também são formas de significar o homem e o mundo.
Na última quarta-feira, no lançamento do livro “(In)Visibilidade Vigilante:  representações midiáticas da maior parada gay do planeta”, o autor Steven Fred Butterman (2012), professor da Universidade de Miami,  é questionado por um jornalista sobre a contradição do país que é cenário da maior parada do mundo ser também a nação que sustenta o maior índice de assassinatos de LGBTs na América. E cabe ressaltar que só são contabilizados aqueles que a morte foi registrada como conseqüência da intolerância homofóbica.
Ao responder, Steven fala da sua percepção sobre a parada de São Paulo como um espaço democrático, em que há todos os tipos de “tribos”, como a dos Skinheads simpatizantes a causa LGBT, uma das possibilidades explicativas da dimensão do evento paulistano. Acrescento a perspectiva da Consciência Política de Salvador Sandoval (2001), descrita a partir do sentimento de injustiça, da identidade coletiva, das expectativas societais, bem como dos interesses simbólicos e materiais.
Tudo isso faz do sujeito político, consciente ou não de sua ação, alguém parte de um movimento. E não apenas o protesto em repúdio à violência motivará os sujeitos, mas também a vontade de viver, de expressar a sexualidade – seja numa festa, num levante de cartazes, num grito ao megafone ou num ato suicida.
E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”. Friedrich Nietzsche