segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno.


Luiz Carlos Gracia

Dedico o presente poema ao titular desse acróstico

Lindo, adjetivo simples e completo,
Único quando, entre muitos, simplesmente é.
Impar talvez seja como te digo do
Zelo, desvelo teu em notar que estava ali por ti.

Cativante sabes que és.
Adorável menino, só por não parar de sonhar contigo,
Resta-me a dúvida do mínimo ser tudo o que me parece muito.
Louco, varrido, imaturo talvez eu seja por falar-te tais coisas.
O desejo é assim, se deseja e ponto.
Sinceramente, quero que teu sincero olhar saiba desse querer de pronto.

Gato garoto, de beleza marcante,
Ator principal e coadjuvante.
Raro rapaz rouba-me a cena com sua presença,
Contraceno contigo cada papel que me pertença.
Insisto porque não desisto e assim vejo a peça,
Ainda que não sejas o que espero, persisto que algum papel me peça.

***

*Título da postagem emprestado de Regina Brett


domingo, fevereiro 03, 2013

Entrevista de Silas Malafaia em "De frente com Gabi"




Dentre tantas falas irresponsáveis, revoltantes, incoerentes, rasas e levianas, gostaria de responder algumas, uma vez que o pastor clama por verdades que ele próprio alega serem de Deus.
Antes de qualquer coisa vamos à conjuntura e uma reflexão rápida para posicionarmos as respostas. Vivemos num país que desde a colonização fora catequizado pelo cristianismo. O cenário das correntes religiosas vem mudando, como aponta o IBGE, contudo, compomos uma nação esmagadoramente cristã, em que a bíblia mais que documento sagrado, representa para muitos a verdade absoluta sobre a história, sobre a vida, sobre o mundo, sobre nós mesmos.
Paralelamente a isso somos um país que cronicamente se esquiva em dar valor à educação e aos demais Direitos Humanos. Mais que dados acadêmicos, a realidade cotidiana nos mostra: assistimos ao sucateamento dos serviços básicos de atendimento à população. Inseridos num sistema capitalista em que o mercado dita sobre as ações do Estado, não tem mais importância se o serviço público não funciona. Os planos de saúde estão aí e as escolas particulares são ótimas opções para o vestibular. Pouco importa se tudo isso é vazio.
Não digo que a religiosidade associa-se à falta de educação, muito menos à ignorância. Contudo, ela oferece e representa uma possibilidade de leitura do mundo e de todas as coisas. Se não temos acesso à informação, outras culturas e outras perspectivas, como podemos deixar de reforçar o que está posto hegemonicamente?
Infelizmente, diante disso, os dogmas e os princípios das diversas religiões são instituídos como verdades para todos. É complexo, pois muitos que nelas acreditam, transformam e significam vários de seus sentimentos a partir delas, como a esperança, o otimismo, a fé, e acabam fazendo delas a única forma de compreender a realidade.
Não se trata de discordar de uma passagem bíblica, da defesa de um principio, de um pastor que defende o que acredita. É mais que isso! Responder às falas rasas de Silas malafaia é contestar a sobreposição e sobrevalorização de ideais e crenças, é protestar contra a opressão religiosa e o oportunismo frente à fé ingênua de tantos fiéis, é um grito contra a prepotência de pessoas que se julgam detentoras do saber sobre todas as coisas. Vamos ao ponto.
Primeiramente, Malafaia é incoerente, uma vez que defende uma perspectiva criacionista e para explicar a sexualidade busca sustentar seu discurso na biologia.
A biologia, por exemplo, tem se dedicado a buscar anomalias endocrinológicas, neurológicas e genéticas, entretanto, nenhuma pesquisa até hoje conseguiu comprovar e explicar a homossexualidade de maneira a se esgotarem os questionamentos. Até porque nem mesmo a biologia é objetiva como a matemática e a física. Se pensarmos na sexualidade humana, ela é totalmente atravessada pelo social, vejamos como concebemos a puberdade em diferentes épocas.
Quanto à psicologia, e aqui abro um parêntese para compartilhar um incomodo que julgo ser próprio de muitos psicólogos e estudiosos da psicologia ao ver o dito pastor se pronunciar em nome de tal campo do conhecimento, são tantas perspectivas dentro da própria psicologia, que não há como falar em consenso. Freud, precursor da psicanálise, em seus ensaios sobre a sexualidade, fala da pulsão e dos objetos sexuais. Trata da homossexualidade como inversão e não está de acordo com uma postura curativa. Acrescenta ainda que a leitura sobre a inversão advém do que o contexto permite. Já outra hipótese, dentro da linha comportamental, defende que a homossexualidade associa-se às experiências primevas, positivas e negativas, reforçadas em atos masturbatórios.
A medicina por muitos anos fez uso de manuais que conceituavam desvios sexuais, caracterizando perversões morais em patologias. Contudo, avançados os estudos, a medicina não considera mais homossexualidade como uma doença mental.
Thomas Laqueur, em Inventando o Sexo - Corpo e gênero dos gregos à Freud, relata como o sexo, sexualidade e gênero foi sendo concebido desde a era clássica até o modernismo científico. Por milhares de anos, por exemplo, acreditou-se que as mulheres tinham a mesma genitália que os homens, invertida, para dentro. Logo a compreensão desses três elementos (sexo, sexualidade e gênero) associava-se a um único modelo. Por volta de 1800 escritores começaram a atribuir as diferenças fundamentais entre homens e mulheres e aos finais do século XVIII o antigo modelo metafísico de compreensão do homem e mulher deu lugar a um modelo de dimorfismo radical, de divergência biológica. A visão dominante desde este século era, portanto, de que havia dois sexos, fato que determinava a vida política, econômica e social, bem como os papéis de gênero. Logo, estabelecem-se dois modelos para a leitura dos três elementos acima citados.
Notemos que a própria ciência muda conforme se avançam os estudos. Não há verdades que se estabelecem em qualquer época e lugar. Desde os primeiros estudos sobre a sexualidade até as pesquisas pós-modernas sobre o tema muito se criticou, analisou e refletiu. E diante disso tudo não há como crer que um único livro possa dar respostas a todos os anseios e dúvidas. 
Além disso, a bíblia não pode ser a única referência para todas as coisas. Afinal, será que poderíamos explicar o mundo somente através de palavras? Será que o que significamos é igual para o outro?  Independentemente das respostas, cabe atentar também às interpretações, que sob qualquer fonte podem ser enviesadas e deturpadas.
Vivemos hoje uma realidade triste para a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) no Brasil e no mundo. Suicídios de jovens, punição  em algumas nações, assassinatos, etc. Aqui destacamos o alto índice de violência direcionada à outrem motivada pela homofobia.  
Segundo o Grupo Gay da Bahia o número de assassinatos de homossexuais aumentou 27% no Brasil neste ano que passou. De acordo com o levantamento foram 338 assassinatos motivados por homofobia em 2012. Isso quer dizer que quase todos os dias um homossexual é morto em nosso país devido à intolerância e o ódio.  Cabe mencionar ainda que muitos casos nem são registrados. Além disso, há os casos de suicídio, estes nem expressos em números.
Outro levantamento é o da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR), que em julho do ano passado mostrou alguns números referentes à homofobia em 2011, ainda que consideremos a subnotificação: foram denunciadas 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTs, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos. Os estados com maior incidência foram São Paulo (1.110), Minas Gerais (563), Rio de Janeiro (518), Ceará (476) e Bahia (468). 67,5% das vítimas se identificaram como sendo do sexo masculino; 26,4% do sexo feminino; e 6,1% não informaram sexo. 47,1% tinham entre 15 e 29 anos. Com relação aos principais tipos de violação, 42,5% dos casos registrados foram de violência psicológica; 22,5% de discriminação; e 15,9% violência física. Quanto quem pratica a violência, em 61,9% dos casos o agressor é próximo da vítima, em 38,2% são familiares, sendo que em 42% dos casos a violência se deu dentro de casa; 5,5% das violações foram registradas em instituições governamentais – sendo 3,9% em escolas e universidades, 0,9% em hospitais do SUS, e 0,7% em presídios, delegacias e cadeias.
E são inúmeras as fontes a serem consultadas. Relatórios, artigos acadêmicos, etc. É só pesquisar. São Paulo, por exemplo, já possui até um mapa da homofobia, mostrando os bairros mais perigosos e com maiores índices de denúncias de violência homofóbica.  Ou seja, os dados, os números e as múltiplas referencias sobre a homofobia no Brasil já conferem o quanto ela é real em nosso cotidiano, resta saber sua origem.
Queremos saber se esta homofobia é construída a partir de um argumento e razão fundamentalista. Se é o preconceito travestido de crença que justifica a violência. 

Fábio Ortolano

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3wx3fdnOEos#!