quinta-feira, dezembro 20, 2007

Estranhos

Hoje me dei conta, mais uma vez, de quão grandiosas são as pequenas coisas. E eu ainda me pego surpreso e perplexo ao ver como certas ações marcam todo o meu dia, a minha mente e os meus pensamentos. Vi de uma maneira tão singela e bela como simples momentos podem se tornar raros e especiais.
Surpreendo-me de como pessoas estranhas me chamam tanta atenção. Tão desconhecidas e próximas ao mesmo tempo, são sempre elas que me motivam a escrever, pensar e refletir. Concluo que elas também dão um significado para minha vida, e talvez são parte de meu ser, pois é quando as encontro que mais olho pra mim.
E falando nelas, lembro-me que nos tempos de criança, eu passava próximo a essas pessoas que nunca tinha visto e imaginava como seria viver aquela vida observada de relance, apenas por alguns minutos. Aquelas idéias voavam como passarinhos que encontram os seus ninhos, batiam assas por alguns segundos, para em seguida repousarem.
Certa vez, eu estava na casa de meus tios, e ouvi a vizinha escutando uma música que há tempos eu procurava. Uma melodia alegre, que me trazia lembranças de sei lá o que, e sem saber o porquê, eu sempre quis ouvi-la. E claro, tinha que ser uma música antiga, anterior a minha geração, afinal, o passado, como o presente e futuro, muito me encanta.
Assim, não resisti e liguei para a tal vizinha, conhecida como Mirian. Falei do meu interesse pela música, o quanto eu apreciava e a perguntei qual era o nome, afinal nunca tinha visto. Durante nossa conversa eu não sabia como definir a dita musica, pois já haviam tocado várias depois. Então ela pediu-me que cantasse um trechinho, logo, saberia qual seria a musica de meu interesse. Eu, muito envergonhado fiz o que me sugeriu. E ela, muito simpática, disse o nome comentando o quanto gostava daquele som.
Tempos depois, mais precisamente ontem, eu voltei na casa de minha tia e fui escutar algumas músicas. O telefone tocou e eu mesmo atendi. Era aquela vizinha, dizendo adorar as músicas que eu estava ouvindo. Ela as tinha também, mas mesmo assim teve vontade de ligar e compartilhar seu prazer em escutar aquelas melodias, dizendo que já imaginava quem seria o outro ouvinte, no caso, eu. Nossa conversa foi tão curta e mágica ao mesmo tempo. Parecia que nos conhecíamos há anos, falando de nossos gostos musicais tão semelhantes. E depois daquela ligação as músicas pareciam mais belas que antes.
Mal conheço, pouco nos falamos e somos de gerações distintas, no entanto, parece que muito sei ao seu respeito, pois me identifico com seus gestos e ações. E não são somente os interesses musicais que temos em comum, mas a alegria e desejo de compartilhar, mesmo que com um estranho, a alegria de simples momentos.
Somos todos estranhos, cada um, uma incógnita, trazendo consigo uma simples resposta: É somente através do outro que se pode conhecer a si mesmo.



Fábio Ortolano

domingo, dezembro 16, 2007

Todos Perdidos


As lágrimas escorrem como sangue de feridas que nunca fecham. Revelam sutilmente a dor de um sofrimento invisível, camuflado por esperanças jamais atendidas.
Estamos todos perdidos, e o pior, deixando ir embora a nossa própria essência, condenados a um futuro mesquinho a qualquer ser vivo.
E para nós, seres racionais, cabe a reflexão e o pensamento. Porque é pensando que nos deparamos com a grandeza ou miséria de nossa existência.
Choramos todos por não sermos enxergados, cada vez mais sozinhos e vazios. A intolerância supera a compaixão, o preconceito ultrapassa o respeito, o egoísmo se sobrepõe ao amor.
As pessoas passam ao nosso lado sem que ao menos a notemos, estamos carentes de contato. Todos gritam na ânsia de serem ouvidos, no entanto, esquecemo-nos de escutar o que nos falam.
E é uma pena que continuemos parados, fracos e covardes. Apenas olhamos as lágrimas caírem, intactos, acuados e impotentes. Sem até lembrarmos de que um dia essas feridas deveriam cicatrizar. Quando é que compreenderemos o valor da humanidade, e assim, lutar por ela?
Vivo o presente sem jamais esquecer o futuro, para que o amanhã não seja somente nostalgias do que vivera no passado.

Fábio Ortolano

terça-feira, outubro 30, 2007

O teatro dos Vampiros

O Teatro Dos Vampiros

(Renato Russo)
Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto...
Nesses dias tão estranhos, fica poeira se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez sempre é a última chance
Ninguém vê onde chegamos, os assassinos estão livres, nós não estamos...
Vamos sair! Nós não temos mais dinheiro, os meus amigos todos estão procurando emprego...
Voltamos a viver como há dez anos atrás.
E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas...
Vamos lá, tudo bem!Eu só quero me divertir, esquecer dessa noite, ter um lugar legal prá ir...
Já entregamos o alvo de artilharia, comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia nossas vidas possam se encontrar...
Quando me vi tendo de viver, comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei, não sou perfeito...
Eu não esqueço, a riqueza que nós temos ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo, eu, homem feito, tive mêdo e não consegui dormir...
Vamos sair!Nós não temos mais dinheiro, os meus amigos todos estão,procurando emprego...
Voltamos a viver como dez anos atrás e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas...
Vamos lá, tudo bem, eu só quero me divertir, esquecer dessa noite, ter um lugar legal prá ir...
Já entregamos o alvo de artilharia, comparamos nossas vidas
E mesmo assim, não tenho pena de ninguém...


****

terça-feira, outubro 16, 2007

Passa, passa, Passarinho

Passa, passa, Passarinho
E não me deixe mais sozinho
Passe o tempo e
Mude os ventos

Passa, passa, Passarinho
E me mostre de pertinho
O seu abrigo e
Sua cantiga

Passa, passa, Passarinho
Bem devagarzinho
A chuva já cessara
Venha ver o que nascera

Fábio Ortolano

sexta-feira, outubro 05, 2007

Canto de Paz


Estavas certo, meu passarinho!
Fiz o que me falastes e entreguei meus sonhos às estrelas. Elas os guardaram enquanto a tempestade não passava. Como são sábias! Mantiveram todos intactos, para uma próxima viagem, sabendo que os românticos estão sempre dispostos a buscar novas destinações.
Dei-me conta de que o oceano que outrora eu sonhara era como as inúmeras lagoas encontradas em nossa jornada. No entanto, continuarei a procura do tesouro e do vale encantado.
Hoje nasce uma flor no solo irrigado pelas chuvas. E sinto-me feliz em ver os vários passarinhos ao meu redor, como tu, que me trouxeste um canto de paz.
Fábio Ortolano

domingo, setembro 30, 2007

Meninos E Meninas

Meninos E Meninas
(Legião Urbana)

Quero me encontrar, mas não sei onde estou
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita
Tenho quase certeza que eu não sou daqui

Acho que gosto de São Paulo
Gosto de São João
Gosto de São Francisco e de São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas

Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre
Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente
Estou cansado de bater e ninguém abrir
Você me deixou sentindo tanto frio
Não sei mais o que dizer

Te fiz comida, velei teu sono
Fui teu amigo, te levei comigo
E me diz: pra mim o que é que ficou?

Me deixa ver como viver é bom
Não é a vida como está, e sim as coisas como são
Você não quis tentar me ajudar
Então, a culpa é de quem? A culpa é de quem?

Eu canto em português errado
Acho que o imperfeito não participa do passado
Troco as pessoasTroco os pronomes

Preciso de oxigênio, preciso ter amigos
Preciso ter dinheiro, preciso de carinho
Acho que te amava, agora acho que te odeio
São tudo pequenas coisas e tudo deve passar

Acho que gosto de São Paulo
E gosto de São João
Gosto de São Francisco e de São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas

quarta-feira, setembro 26, 2007

Grito II

Eu, marinheiro de primeira viagem, me entreguei ao mar, sem saber que rumo a embarcação tomaria, o tempo estava fechado, mas eu só pensava e via o horizonte. Acreditava que meus sonhos fossem o bastante para chegar em qualquer destinação.
Hoje eu grito por me sentir um naufrago, vendo todos aqueles sonhos engolidos pela fúria das tempestades. Eu não tinha a experiência dos velhos navegantes, no entanto, eu tinha as mais belas e puras intenções nessa viagem.
Está tudo escuro, fora de controle, me sinto impotente diante de tamanha tempestade que mais me parece um pesadelo.
Tomara que um passarinho trazido pelo tempo venha logo me acordar, assoprando um grito de paz e esperança.

Fábio Ortolano

***
50 Receitas
(Leoni, Frejat)

Eu respiro tentando encher os pulmões de vida
Mas ainda é difícil deixar qualquer luz entrar
Ainda sinto por dentro toda a dôr dessa ferida
Mas o pior é pensar que isso um dia vai cicatrizar
Eu queria manter cada corte em carne viva
A minha dôr em eterna exposição
E sair nos jornais e na televisão
Só pra te enlouquecer
Até você me pedir perdão

Eu já ouvi cinqüenta receitas pra te esquecer
Que me lembram que nada vai resolver
Porque tudo, tudo me traz você
E eu já não tenho pra onde correr

O que dá raiva não é o que você fez de errado
Nem seus muitos defeitos, nem você ter me deixado
Nem seu jeito fútil de falar da vida alheia
Nem o que eu não vivi aprisionado em sua teia

O que me dá raiva são as flores e os dias de sol
São os seus beijos e o que eu tinha sonhado pra nós
São seus olhos e mão e seu abraço protetor
É o que vai me faltar
O que fazer do meu amor?

Eu já ouvi cinqüenta receitas pra te esquecer
Que me lembram que nada vai resolver
Porque tudo, tudo me traz você
E eu já não tenho pra onde correr

domingo, setembro 16, 2007

Grito


Os dias passam depressa e as tempestades destroem os sonhos, derrubam as fantasias, apagam a vida. O vento continua assoprando a areia da praia e cada grão que insiste cair de minhas mãos eu escuto um grito, meu medo de que um dia elas se esgotem, acabem perdidas na fúria dos furacões. Tenho um oceano de planos e desejos com você, no entanto a escassez de chuvas me traz um receio de que tudo seque, como aquelas várias lagoas que encontramos no percurso da vida.
Fabio Ortolano

sexta-feira, agosto 31, 2007

Muda




Muda


A vida corre e a flor já não é mais muda,
Cresce sonhando amuada, acuada e muda,
Percebe uma evolução nas cigarras a cada muda,
E nela, se não for as pétalas, o que muda?
Fabio Ortolano

segunda-feira, julho 16, 2007

PP


Por varias noites eu vaguei
Esperando encontrar o que sempre sonhei
Dos mais belos contos de fadas aos romances literários
Raros são os românicos que vivem nesses itinerários
O maior desejo é amar e amado ser
Pois não há nada melhor que uma paixão ter
Alguém que se pense todo dia todo
Uma pessoa que te deixe de carinho embriagado
Lábios que se entrelaçam como corolas
O verdadeiro frescor das aquarelas.

quinta-feira, junho 07, 2007

Do Mersault de Albert Camus à Macabéa de Clarice Lispector


De um lado, um homem que se encontra distante e diferente de seu próprio mundo, é o estrangeiro da própria vida. Do outro, uma mulher perdida em seu universo, estranha para todos que a conhece, o oposto da existência humana. Conhecido como Mersault e chamada de Macabéa são pela primeira vez protagonistas, personagens de grandes obras, uma de Albert Camus e outra de Clarice Lispector.
Mersault é um homem comum, trabalhador, mora sozinho e vive numa pequena cidade. Ao mesmo tempo o contrário, é totalmente incomum, parece não ter sentimentos, não traça grandes laços afetivos, é extremamente fechado, e não tem objetivos em sua vida. Macabéa, nordestina brasileira, mudou-se com a tia para o Rio de Janeiro e divide o quarto com mais quatro mulheres. É uma moça que só sabe respirar, chega ser engraçado pensar que é um ser humano, pois é a inexistência de desejos, é a falta da consciência. Não almeja, não sofre, é o nada em carne e osso.
Ambos são coadjuvantes da própria história, não sabem os motivos de suas existências, e nem se interessam em saber. São produtos de uma era, os retratos do vazio de nossa civilização, alienada e assolada pela disputa, pela manipulação das massas, e pela competição. Vivem na escassez de anseios, na miséria do cotidiano e sentem fome de vida.
Nos enredos, enquanto todos admiram a ausência de lágrimas de Mersault na morte de sua mãe, os leitores de A Hora da Estrela se indagam pela indiferença de Macabéa quando seu namorado a deixa por estar interessado na sua amiga. Mersault é um criminoso homicida, mata um homem sem ter motivos e não se culpa por isso. Às vezes se vê como tal, mas é tão irrelevante para ele que não perde seu tempo pensando nisso. Macabéa é assassina da própria vida, não pensa, esquece de si mesma, é uma suicida que não quer morrer.
Mersault não pensava em ninguém, só em alguns momentos na Maria, talvez por um instinto biológico, para fartar uma necessidade física. Macabéa ficou moça tarde, “Porque até no capim vagabundo há desejo de sol” (Clarice Lispector). Pensava em sexo quando ia dormir, no entanto, sentia-se culpada depois.
Assim levam suas histórias, na prisão, o personagem de Camus passa seu tempo observando as paredes, repara em cada detalhe, a cor, os defeitos, as manchas e não se incomoda com a situação. Macabéa vai deitar-se com fome, e para se saciar come pedaços de papel. Certa vez, passa mal por tomar um café cheio de açúcar, havia colocado muito para aproveitar.
Não sabem o que é viver, estão num mundo que não os pertence, e nem os aceita como parte de um universo. Estão além das margens, localizam-se do lado de fora. É fato, serão condenados a saírem dessa condição vegetativa.
Para os dois, resta somente à morte, a esperança de um nascimento, de uma vida. Deixarão o status de estrangeiros para serem os protagonistas da própria existência. Mersault, preso por homicídio, será sentenciado a pena de morte. Macabéa morrerá em posição fetal, após ser atropelada.



Fábio Ortolano, 07 de junho de 2007

domingo, maio 27, 2007

Pratododia

Pratododia
(Danilo Souza)
Como arroz e feijão, é feita de grão em grão
Nossa felicidade
Como arroz e feijão
A perfeita combinação
Soma de duas metades
Como feijão e arroz que só se encontram depois de abandonar a embalagem
Mas como entender que os dois
Por serem feijão e arroz
Se encontram só de passagem
Me jogo da panela
Pra nela eu me perder
Me sirvo a vontade... que vontade de te ver
O dia do prato chegou é quando eu encontro você
Nem me lembro o que foi diferente!
Mas assim como veio acabou e quando eu penso em você
Choro café e você chora leite
Choro café e você chora leite
*
*
*
O Teatro Magico- Virada Cultural 2007

segunda-feira, maio 07, 2007

Lágrimas


Fico sem tempo mesmo sem ter o que fazer,
Não sei o que quero, e sofro por não ter o que querer.
Me encontro sem destino nos meus sonhos e caminhos,
Ah...Se eu fosse como os passarinhos.

Acordo de repente angustiado,
Olho pro lado e vejo tudo complicado.
Tenho vontade de chorar,
Não vou desabar.

As lágrimas não vêm,
Será que eles vêem?
Apontam acuadas nos cantos dos olhos o desejo de escorrer,
E mostrar a dor que é viver.


Fábio Ortolano

domingo, abril 08, 2007

Pedro, João, Joana, Maria, Roberto e Alberto


Ele é o Pedro, João, Joana, Maria, Roberto e Alberto. Tropeça quase todos os dias nos sapatos e nos sonhos ao sair da cama. Está condicionado a buscar uma felicidade comum, igual para todos. Sofre pelo excesso de trabalho, e mais ainda pela ausência de objetivos próprios. Não se encontra em nenhuma penitenciária, mas é um cárcere. Está preso à própria existência. Quando tenta se diferenciar, buscar novos caminhos, percebe que outros já fizeram, e continuam na mesma. O importante é que ele compreenda por si só sua jornada e descubra sua felicidade. E para que ele entenda tudo isso, é necessário pegar o ônibus, tropeçar nos sapatos e até ir ao cinema, mesmo que seja uma obrigação para que no dia seguinte esteja melhor.


Fábio Ortolano

quarta-feira, abril 04, 2007

Mandamentos do Ecoturismo

"Os quatro mandamentos do ecoturismo: da natureza nada se tira, a não ser fotos; nada se deixa, a não ser pegadas; nada se leva, a não ser boas lembranças; nada se mata, a não ser o tempo."

Vamos deixar o ambientalismo de lado quando pensamos nas interações humanas com o meio. Culpamos-nos muito, a todo o momento. Sempre tem alguém dizendo que causamos impactos à natureza, mas qual o animal que não interfere em seu habitat? Dessa forma, nos excluímos de qualquer ecossistema, e nunca pensamos numa troca positiva. Preferimos estudar as relações de outros seres, e acabamos acreditando que sempre faremos o mal. O Homem é parte de um todo. Como a onça e os primatas, têm seus nichos e locais de abrigo.

Fabio Ortolano

segunda-feira, março 19, 2007

Amazônia

Países de primeiro mundo estão se mostrando solidários às nações subdesenvolvidas, ao apoiá-las na preservação de suas riquezas naturais. Exemplo disso é o dinheiro investido na maior floresta tropical do mundo, a Amazônia. Mas será que estas grandes potências não têm outro interesse, além do cuidado com o meio ambiente?
Desde a RIO-92 país desenvolvidos se comprometeram a apoiar e contribuir com nações pobres na preservação de seus patrimônios naturais. Tendo em vista que para chegar ao seu grau de desenvolvimento, muito foi devastado e explorado.
Assim, passam aplicar seus capitais em pesquisas e projetos de países como o Brasil. Financiam, por exemplo, estudos de plantas e insetos utilizados pela indústria farmacêutica. Seria ilusão acreditar que não há nenhum interesse econômico por trás. Estes países têm, e muito, a ganhar com essa contribuição, já que os mecanismos de patente aqui no Brasil não vigoram como deveriam. Chegam a explorar riquezas que nós mesmos desconhecemos.
Diante disso, eles têm o argumento de que nossa nação não investe em ciência, portanto, não deveríamos “atrapalhar” os seus trabalhos, e muito menos nos gabar que somos os principais donos da Amazônia. Convém salientar que estes países “preocupados” com o meio ambiente são os grandes responsáveis pelo efeito estufa. Emitem uma gigantesca quantidade de gases poluentes, e já destruíram boa parte de suas flora e fauna.
Gabar-nos de algo que nos pertence é sem dúvida um direito. Se hoje ainda há riquezas a serem exploradas em nações subdesenvolvidas, cabe as mesmas cuidarem de seus patrimônios. Uma forma é o Turismo sustentável, fazendo com que esta atividade econômica preserve o meio ambiente. Por exemplo: Ao invés de devastar uma área para o cultivo de algum alimento ou para a pecuária, que geraria empregos e lucros. Podia-se preparar e planejar a região para uma interação do homem com outros animais e o meio, gerando também novos trabalhos e formas de subsistência. Portanto, devemos sim, repudiar qualquer idéia de internacionalização da Amazônia. E como cidadãos, cobrar mais incentivos aos nossos cientistas.

sexta-feira, março 09, 2007

Vou-me para Rabocaso


Vou-me para Rabocaso, não para Pasárgada. Não escolherei a cama, nem ao menos os companheiros. Sim, os vejo como outra civilização, parecem bem educados. Lá não serei amigo do rei, e mesmo sendo, não teria importância. Se ficar sozinho, assim estarei, não haverá escapatória. Mas posso dizer uma coisa, por aquelas terras a existência também será uma aventura.
Nada é como outrora, como os dias que não se via passar as horas. Muda-se o rumo do romance. O enredo já não é o mesmo. As páginas são viradas sem ao menos imaginar como será a próxima cena. Cada passagem tem uma intensidade, todas fortes. E quando o sol se deitar a personagem vai chorar. Mas nada ela fará, mesmo que a vontade de se matar a dominar.
Aqui sou feliz, e lá? Rabocaso, cidade de meu maior caso? Será que um dia, por lá, eu ainda me caso? Já sei, farei como nos tempos de eu menino, fecharei os olhos e imaginarei só coisas boas. Pode ser tudo diferente, mas pelo menos serei um sonhador.


Fábio Ortolano

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Tempos

Nossa história baseia-se nas ações de nossos antepassados.Seria ilusão acreditar que tudo que nos contam é verdade. Se pararmos pra pensar que em raros momentos temos uma mulher ou um negro importante. Aprendemos sobre um passado machista e preconceituoso. Convém salientar que também há uma manipulação cultural, já que vivemos uma visão eurocêntrica.Mesmo assim, é através da história que avaliamos nossas evoluções e buscamos melhorar o presente.Embora este seja de catástrofes e ameaças o amanhã é sempre imprevisível, então, se mudarmos o modo de conduzir o nosso destino, o futuro será promissor.Diante dessas transições, vivemos na era do instantâneo, nossa conjuntura social faz do hoje um presente exacerbado. O avanço da tecnologia e dos meios de comunicação alavanca o desenvolvimento, mas por outro lado, o desenvolvimento, mas por outro lado, exclui os que não se adaptam. Um exemplo, é a atual exclusão digital que deixa às margens cidadãos que têm acesso a Internet e ao computador. Criar mecanismos que mudem essa realidade não é fácil, mas não significa que não devemos tentar, ao levarmos em conta que todos os seres humanos são sucessíveis a mudanças a curto e longo prazo.O ditado popular “Vamos dar tempo ao tempo” nos retrata quão importante é essa sucessão de dias, meses e anos. Não simplesmente uma seqüência cronológica, mas certamente o grande formador e mediador de nossas personalidades e ações. Afinal, é só através dele que podemos tirar sábias conclusões.Sobre Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Álvaro Lins escreve que só a morte confere o direito de julgar definitivamente a obra de um escritor, pois só assim poderá ser avaliado por completo. O Tempo é como a morte, nos dá uma constatação minuciosa do que se foi. A história pode até sofrer algumas intervenções desde que saibamos filtrar algumas informações. Portanto, devemos compreender o passado, viver intensamente o presente, para fazer do futuro tempos melhores.
Fábio Ortolano

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Defitinitivamente o fim.


Depois de tantos medos, aflições e lutas veio o momento de trégua, tempos de paz. Agora o guerreiro segue seu caminho. Feliz pela luta vencida, mas triste pelos companheiros que não tiveram o mesmo sucesso.
A guerra é sempre assim, injusta!
Ao vencedor, as comemorações são sempre bem vindas. Aos que não venceram, só os restam a força e a determinação de atingirem seus objetivos.

Fábio Ortolano

terça-feira, janeiro 30, 2007

Morrer não dói

"O amor é o ridículo da vida, a gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo, indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa idéia de paraíso que nos persegue, bonita e breve. Como borboletas que só vivem vinte e quatro horas. Morrer não dói."
Cazuza

quarta-feira, janeiro 24, 2007

"O Segredo é não correr atrás das borboletas...É cuidar do jardim para que elas venham até você"


“ O segredo é não correr atrás das borboletas...
É cuidar do jardim para que elas venham até você”
Mario Quintana


Chega de podar os galhos indevidos, adubar a terra e regar a grama. Basta de moldar as plantas, achar a sombra certa e querer que todos os botões desabrochem iguais, fortes e belos.
Vamos plantar mais sementes, deixar espaços para que os passarinhos façam seus ninhos. Assim, seremos mais livres, poderemos fazer nosso jardim próprio, realmente único. Não ficaremos limitados no que já existe. Inovaremos, teremos o diferencial.
Certamente será mais trabalhoso, mas por fim o sábio jardineiro aprenderá que o essencial é aumentar o jardim, por que mesmo que um dia algumas plantas morram , terá outras para enfeitar seu espaço. E sempre haverá borboletas.

Fábio Ortolano

domingo, janeiro 21, 2007

“Quer romance? Compre um livro!”

“Quer romance? Compre um livro!”

Será mesmo que os romances saciam os desejos de um romântico? Pra mim, podem até oferecer prazer ao leitor, porém nada é como a própria estória. Aliás, do que são feitos os livros, contos e crônicas, a não ser sobre as experiências humanas. Muitas vezes os autores projetam seus sonhos em palavras. E ler é uma viagem que almejamos fazer.
Assim, infeliz é o sujeito que se priva das simples e grandes emoções. A vida precisa ser vivida intensamente. Cheia de sentimentos, dramas, conflitos, prazeres, derrotas e conquistas. Só assim valerá a pena.
Ao contrário disso, a pós-modernidade é marcada pelo instantâneo, fazemos tudo às pressas, mal sentimos o sabor da vida. Os pratos são colocados à mesa e as pessoas comem sentadas no sofá vendo a Televisão. Os casais atropelam carícias, momentos de sensualidade. Queremos sempre chegar logo ao fim. Simplesmente matamos a fome e satisfazemos os instintos animalescos.
Por isso o livro não me basta, não quero satisfazer meus desejos através de uma personagem. Espero viver tudo intensamente, sem pular etapas, apreciando minuciosamente cada instante.


Fábio Ortolano

domingo, janeiro 14, 2007

Acróstico dedicado ao amigo Leandro R. Carneiro


Leal e companheiro
Es meu amigo verdadeiro
Ao conhecer o simples garoto
Não me enganei
Divino é o querido maroto
Rico em educação
O exemplo de dedicação

Raro moço caprichoso
Otimista e corajoso
Bravo e forte
Excessos não lhe faltam
Rabiscos numa folha o completam
Torna belas as palavras
O escritor que não é de lavras

Certamente és certeiro
Audacioso e guerreiro
Remove até montanhas
Nas horas mais estranhas
Es um grande sonhador
Ilustre idealizador
Romântico e sedutor
O sábio professor


Fábio Ortolano

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Paz




É tempos de descanso, de trégua. A guerra já terminara, só nos resta esperar, como aquela dona do busto inchado, que espera nove meses para dar a luz. Tivemos meses de preparo, estresses e luta. O futuro não sabemos como será, certamente a luz da esperança iluminará o caminho nos próximos dias. E com ela, alimentaremos nossos sonhos.
As batalhas não foram fáceis, dois meses de garra, coragem e determinação de todos que delas participaram. Não só os vencedores serão gratificados, numa guerra todos perdem e ganham. O jovem combatente sempre terá um aprendizado, mesmo sem a vitória. Para todos, o que resta é a paz, a tranqüilidade do fim. Compartilham desse momento para que nos próximos dias tenham força pra seguir o destino ou continuar na luta.
É assim, depois de uma guerra, sempre haverá um momento de tranqüilidade. Aproveitemos então a paz que aconchega nossas vidas.

Fábio Ortolano

domingo, janeiro 07, 2007

Lívia De Sordi


Lívia,

Hoje o tema de nossa redação fora amizade, confesso que a princípio senti dificuldades em expressar o que pensava, mas como tudo na vida, se deixarmos os fatos e relações fluírem naturalmente, terão resultados na maioria das vezes positivos.
Assim eu fiz na hora da prova, lembrei das pessoas que passaram em minha vida e dessa forma eu coloquei minhas experiências. Você foi uma pessoa que me lembrei, companheira de cursinho, sonhos, debates e confissões. Pra mim, esse é o valor da amizade, as pessoas não precisam ser eternas, o simples fato de terem passado por nossas vidas, já as torna muito especial. O importante é essa relação de cumplicidade e carinho.
Tenha certeza, um dos maiores presentes que ganhei na vida foi a sua carta, já perdi a conta das inúmeras vezes que a li. Como você disse, o quê é uma prova no meio de uma vida inteira....Antes de deitar eu passei os olhos por esse trecho e consegui dormir. Fiquei tranqüilo, mas acho que não foi por pensar na simplicidade que é fazer um vestibular, certamente suas palavras amigas me confortaram num momento de ansiedade. Dessa forma vejo a amizade, como uma troca, dividimos algo, pra multiplicar a alegria.
Sem dúvida nossa jornada é mais prazerosa se temos um amigo.E como retribuição de tudo isso, publico hoje um acróstico dedicado à você.



L írio das mais belas pétalas
I gualá-se a beleza de raras pérolas
V ive ela na pequena Nova Odessa
I maginando mundos encantados
A limentando sonhos apagados

D ona de inestimável inteligência
E s exemplo de competência

S ingela e também brilhante
O fusca a preciosidade de qualquer diamante
R etratar-te é trabalho para um poeta
D ivertida e responsável
I lustre e amável

Fábio Ortolano

Rumo à guerra



Uma batalha já fora vencida
Os sacrifíos superados
A luta compreendida
Os medos encorajados

Estamos próximos da fronteira
Mas não é a das trincheiras
Escrevendo nossas histórias
Estamos à um passo das vitórias

O sucesso ou a derrota
Não mudarão nossa rota
Haja oque houver
Seja o que Deus quiser!

Rumo à guerra!

Fábio Ortolano

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Escola


Iniciei meus estudos no ano de 1992. Era tempos de feira de ciência, festas da pizza, junina e etc. Bons tempos aqueles. Lembro-me de uma comemoração de dia das bruxas, foi incrível, não por minha classe ter ganho o prêmio de melhor decoração, mas pela cooperação que houve entre alunos. Do resto, tudo íamos mal, futebol, arrecadação de mantimentos e etc.
Passei oito anos de minha vida na Mattos Gobbo, por mim passaram vários professores, alguns ótimos, outros bons e até professores de "fundo de quintal".Raquel(que ainda vejo esporadicamente)de Português,Othonaide de Ciências, Márcia de Ed. Física, Catharina de Inglês, Adélia de Matemática, Maria Lazara...rsrs de geografia, Totó e assim por diante.
É triste recordar de algumas coisas. Certo dia eu estava descendo a escada que da para as salas de baixo e me dei conta de quanto aquela escola havia mudado. Foi uma sensação horrível, me senti roubado, injustiçado, desprotegido, impotente. Era muito novo, acreditava que os grandes responsáveis eram políticos.
Não tinham mais aquelas festas, os grêmios mal se formavam, a biblioteca...Para que a tinha? Se não havia o incentivo a leitura e mal se falava de literatura nas aulas de português. A única coisa que lembro, foi um trabalho que fiz sobre arcadismo, só!
Sem contar na sala disponível para tal, era um cubículo que só caberia um acervo de livros didáticos.E a inclusão digital? rsrs. Não sei se dou risada ou choro. Sei que só pude tocar no computador de lá duas vezes. Na verdade, as únicas pessoas que utilizavam os PCs eram funcionários da escola, irônico, não é? Já que estes certamente tinham mais acesso a essas tecnologias. Não os culpo, afinal, são também vítimas de um sistema de educação falido.
No último ano que estudei naquela escola, teve um "Concerto pela paz na escola" realizado pelo governador Geraldo Alckmim. Alguns alunos foram escolhidos e fomos para São Paulo, no ginásio do Ibirapuera. Achei o máximo quando a coordenadora da escola disse-me que eu era um dos escolhidos, acreditava que estava participando de um projeto no mínimo interessante. Não era. Simplesmente uma alienação. Foram alguns famosos se apresentarem e falavam bem da escola pública, que já estava desmoronando, em ruínas. Tudo farsa, como quase tudo em nosso país, no qual o estado é cada vez mais ausente.Hoje minha visão é outra, o problema vai muito além da corrupção ou da falta de interesse de nossas autoridades. Todos nós temos uma parcela de culpa. E quando me perguntam como era estudar em uma escola pública, prefiro falar das coisas boas. Mas preferir nem sempre é o que fazemos, exemplo disso é o texto que acabo de publicar.
Diante disso, para não ser tão impotente eu estudo, quero ingressar em uma universidade de qualidade, e acredito que todos deveriam ser assim, não como eu, mas como alguém que deseja mudar o quê parece estar errado, dentro de suas possibilidades.
Fábio Ortolano

Meu Protesto



Ao entrar no ônibus no dia 21 de abril de 2006, data esta que se comemora a morte de Tiradentes, símbolo da independência de nosso país, me deparei com algo contraditório: Na data supracitada, o retrato de um menino sem perspectivas de vida apontava pra uma realidade de um país miserável que, ainda dependente, é afetado pela luta de classes.
Esse garoto deveria ter seus nove ou dez anos e mesmo tão jovem fazia seu trabalho como um adulto experiente com diversas habilidades, uma delas a boa comunicação que tanto encantava as pessoas ali presentes.A moça do banco à frente sorria para o menino, o casal de trás comentava sobre seu dinamismo, e eu refletia sobre a situação.
Sem dúvida seu trabalho é bonito e suas causas devem ser nobres, afinal, estamos tratando de uma criança, vítima de um sistema injusto e cruel. Mas as conseqüências do trabalho infantil são catastróficas, invisíveis, porém irreversíveis. Acabar com o sonho de uma criança é inadmissível, monstruoso, e ao fazer com que ela desde pequena tenha responsabilidades contribuímos para isso.
Já eram 23h e antes do ônibus sair o menino se oferece para carregar as malas dos passageiros.Objetos pesados para aqueles adultos, imaginem para uma criança. Seguimos a viagem e o menino veio falando sobre os serviços oferecidos pela empresa de transporte e no término de seu discurso passou pelo corredor vendendo gomas.Alguns por gratidão, outros por compaixão compraram as balas do garoto.Antes de descer dividiu parte de seus lucros com o motorista e como lhe avia sobrado algumas gomas, deu para o motorista e disse:
- Dê para seus filhos, o senhor os têm?
- Tenho sim, uma menina. Essa hora ela já deve estar dormindo.
Chocou-me aquela cena, notar que muitas vezes nós não percebemos o outro, como aquele motorista que não pensou que poderia ser sua filha naquele momento. Durante toda a viagem pensei numa forma de mostrar o quê pensava ao motorista, até lhe pedi uma caneta para escrever um bilhete, mas na hora de entregá-lo, me faltou a coragem. Covarde!
Talvez eu não devesse ser a pessoa certa para isso. Mas aqui faço meu protesto, por esse e por vários meninos e meninas que têm suas infâncias roubadas. O Brasil tem um projeto chamado PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), conveniado a projetos sociais de municípios que visam tirar crianças da rua e do trabalho precoce. Vale lembrar que o apoio da sociedade é muito importante, desde a conscientização dos riscos até a ajuda de organizações que lutam contra esse mal.
Fábio Ortolano

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Bradescomplicado


Nas paginas de um dicionário achamos a definição de completo da seguinte forma: 1. A que não falta nada do que pode ter; 2. Perfeito , acabado. O velho Aurélio explica complicado como: complexo, difícil , confuso.
Percebemos então, que o maior banco privado do país, engana-nos ao dizer que é completo em suas propagandas. Vendem-nos imagens de conquistas, momentos de entretenimento e felicidade. Mas o que isto tem a ver com cadernetas de poupança, cartões de crédito e caixas eletrônicos? Na verdade nada, simplesmente tentam encobrir o mau atendimento que oferecem e a péssima consideração que realmente tem com os clientes.
Assim, confiantes que encontraremos o gerente a nossa espera, funcionários simpáticos auxiliados por instrumentos que facilitem o atendimento, vamos ao banco a procura de um dos serviços prestados. Lá, encontramos pessoas sobrecarregadas, conseqüentemente de mau humor. Mal conseguimos contar as voltas que a fila dá, e o gerente cadê? Certamente, deve estar numa salinha subindo as escadas, virando à direta, na última sala do canto esquerdo.
E o pior é que além do serviço mal feito, estas empresas, inseridas no mundo neoliberal, invadem nossas casas anunciando camufladamente suprir a ausência do Estado. Já que o último não nos oferece lazer, qualidade de vida e sucesso, essas organizações induzem-nos acreditar que elas farão o papel do governo omisso.
Diante disso, compreendemos que os bancos como o Bradesco, as concessionárias de automóveis e as megas lojas de roupa são bem complicadas, muito longe de completas. E são muito parecidas com as instituições públicas, ou seja, bem diferente do que nos mostram. Organizações mascaradas com serviços maquiados.
Fábio Ortolano

Márcia

Não me lembro a data certa, só sei que as lembranças ainda se fazem presentes. Era um final de tarde e eu voltava para casa. Encontrei uma mulher que nunca tinha visto na vida e posso dizer que ali ocorreu algo mágico, descobri com uma desconhecida alguns dos valores humanos. Cheguei no ponto de ônibus, e lá estava a tal moça, vendendo algumas bugigangas. Ao me aproximar, ela indagou:
- Moço, não quer comprar umas pulseirinhas para namorada?
Disse que não tinha dinheiro, mas ela insistia e eu repetia que não as queria. Era uma mulher simples, estava vestida com trajes velhos, com alguns furos, gastos pelo tempo.
Percebendo que não conseguiria fazer a venda, ela sentou-se e ficou quieta. Sentei ao seu lado e perguntei se era ela mesmo que confeccionava os utensílios. Respondeu-me que sim e vendo meu interesse começamos a conversar.
Em poucos minutos ela já havia me contado boa parte de sua vida. Paulistana, morou em várias cidades e quando a conheci estava instalada em Americana-SP, num galpão de fábrica. Com ela, vivia um deficiente, um alcoólatra e um mendigo, todos estavam lá de favor, dizia. Antes disso, tinha um barraco em Campinas, maior cidade interiorana do Brasil, saiu de lá pela falta de privacidade e insegurança. Se não me engano, seus filhos moram em outra favela com o pai, que tem mais condições para sustentá-los.
Mesmo marginalizada pela conjuntura social, ignorada pelo Estado, ela era otimista, dizia que queria construir uma casinha na nova cidade que a acolheu. Queria ir ao cabeleireiro fazer as unhas, pintar o cabelo, para que alguém se interessasse por ela.
A conversa fluía como se conhecêssemos há anos. Veio meu ônibus e eu precisava ir, mas pensando melhor, resolvi ficar ali por mais alguns instantes, afinal, ela estava tão entusiasmada em me falar sobre sua vida, carente de atenção e tão confiante no meu interesse, que seria injusto de minha parte deixá-la naquele momento.
Sinceramente eu também precisava dela. Passado um bom tempo eu já não sabia quantos ônibus havia perdido. Não me esqueço da cena em que eu disse:
- Esse é o meu, tenho que ir.
- Ahhhhhh, que pena.
Aquele som foi como uma estaca, prendendo-me naquele local. Acho que ficaria o resto da noite a ouvi-la, mas já estava escurecendo e eu realmente precisava ir, dessa vez, ao avistar meu ônibus eu me levantei e me surpreendi: Ela se levantou e me deu um abraço.Em direção ao ônibus, escutei:
- Como se chama?
- Fábio, e você?
- Márcia
Não sei explicar os motivos, o por quê aquela mulher me chamou tanto a atenção. A princípio mal a vi e depois ela se manteve em minha mente por vários dias. Deveria ter comprado algum daqueles objetos, pelo menos teria uma lembrança dela.

Fábio Ortolano