terça-feira, novembro 03, 2020

Minorias sociais e a tríade resistência comum

 

Artigo publicado originalmente no Portal Novo Momento

As minorias sociais, segundo o sociólogo Luís Chaves, são grupos de pessoas que de algum modo encontram-se numa situação de tratamento discriminatório em relação aqueles que detêm status de privilégio. Em outras palavras, são pessoas socialmente em posições de desigualdade ou em situação de vulnerabilidade. São grupos sociais subrepresentados nos espaços de poder
e de autoridade moral. 

Essas posições sociais são construídas num processo histórico de preconceitos e estigmas. No Brasil, infelizmente, carregamos uma herança colonialista, escravagista, segregacionista, classista, patriarcal e moralista. Tudo isso produz lugares de subalternidade aos negros, mulheres, pobres, pessoas com deficiência, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e adeptos às religiões perseguidas. 

Desde a segunda metade do século XX, uma série de movimentos sociais, dentre eles o feminista, o negro, o LGBTI e o de pessoas com deficiência, têm pautado os direitos redistributivos, que compreendem os direitos políticos, civis e sociais; bem como os direitos de reconhecimento, reivindicando novas legitimidades e reconhecimento moral. 

Para tanto, todos esses movimentos expressam em comum uma tríade resistência estética, linguística e moral. Fazendo de seus corpos potência de transformação e construção de suas identidades; usando a linguagem como forma de ressignificação, fazendo das palavras um meio para revisar estigmas e contrapondo-se ao machismo, ao classismo, ao racismo, ao homotransfobia e ao capacitismo, de modo que saibamos conviver com as diferenças e respeitando a alteridade do outro. O multiculturalismo precisa que pessoas e instituições (escola, família, governo, empresas) sejam corresponsáveis pela afirmação desse valor comum.

quarta-feira, abril 08, 2020

Um conto do hoje


Dotado de uma licença poética e audaciosa, esboço uma paródia da incrível e revolucionária fábula de Rachel Carson, da obra Primavera Silenciosa.

Era uma vez uma cidade no interior do Brasil onde tudo parecia estar em constante harmonia.  Os seres humanos e os animais coabitavam um espaço rico e belo em natureza, um lugar mágico. A formação geológica ensinava sobre a dimensão do tempo e espaço; os cursos d’água e suas quedas aludiam à importância dos ciclos e potência da vida; as árvores e os pássaros revelavam a beleza de pertencer e estar num lugar. Tudo isso compunha uma paisagem cênica impar. Na cidade formava-se um vale, de onde - do alto - se via o horizonte, o amanhecer e o anoitecer em sintonia com um cenário repleto de riquezas biológicas e ecológicas de um país tropical.
Pelo caminho, era possível ver nas gramíneas os orvalhos, sentir o cheiro da terra, o frescor do clima e o barulho das águas. Para chegar à primeira cachoeira, descia-se uma escada lapidada pelo homem, serpenteada pela vegetação e, lá em baixo, encontrava-se uma gruta e um pequeno represamento natural. As crianças brincavam na água, alguns se arriscavam, saltavam e pulavam, outros se penduravam nos galhos e balançavam até se soltarem. Casais, amigos e famílias faziam piqueniques aos finais de semana. Os viajantes que passavam por lá ficavam encantados com o oásis de verão.
Às vezes a neblina dificultava ver o horizonte, nada que tirasse o encanto e os mistérios do lugar. Ao contrário, estimulava a atenção curiosa, remetia os sonhos de infância e a admiração pela vida bucólica, tranquila e silenciosa junto aos sons naturais.
Vários fatos se sucederam naquele lugar.  Certa vez, um senhor, munido com pedaço de pau, se defrontou com uma cobra, domando-a para sua segurança. Em dada ocasião, uma pessoa, desacreditada na vida, jogou-se peral abaixo. Numa manhã, em que uma forte neblina pairava sobre o local, um guarda ordenou que um meliante corresse o mais rápido que pudesse em direção ao penhasco para que não morresse à bala e ninguém sabe seu fim. Conta-se também que numa tarde de chuvas fortes um gado teria entrado no córrego e sucumbido à velocidade da água, caindo de cima da maior cachoeira. No passado, as mulheres iam lavar roupa naqueles arroios e as crianças, acompanhadas de amigos e familiares, aprendiam a nadar nos pequenos represamentos. Num entardecer viu-se uma senhora fazendo suas preces e dispondo no curso d’água suas oferendas.
Os dias seguiam como sempre, mamíferos (incluindo os seres humanos), répteis, anfíbios, aves e insetos viviam e transitavam naquele lugar, próximos às nascentes, aos arroios e córregos.  Tudo em equilíbrio no bioma com a maior biovidersidade do mundo, a Mata Atlântica.
Eis que tudo começou a mudar, como se um feitiço encerrasse a magia daquele lugar. Os animais começaram a ir embora, proliferaram espécies invasoras, infiltraram pragas e multiplicaram os animais peçonhentos.
As pessoas deixaram de ir para aquele lugar, deram as costas. Não mais o enxergando, começaram a jogar todos os seus dejetos, descartando lixo e entulho, despejando esgoto e até desovando corpos. O lugar foi se desfigurando, não mais visto como aquele lugar colorido e vívido. Passou a ser visto como um buraco, uma sobra urbana, cinza, pálida, suja e fétida. A única vida possível notada passou a ser a marginal, da drogadição, da decomposição, da delinquência e dos descartes.
Com efeito, foram aparecendo novas doenças infectocontagiosas, virais e respiratórias. Mais ainda as pessoas  se afastaram, presas e enfermas em suas casas, onde ilusoriamente encontravam a segurança de um bem-estar.
O mato foi crescendo, os grupos de turistas não passavam mais e no imaginário social aquele lugar era cada vez mais perigoso e sujo. Não mais misterioso, passou a ser suspeito. Até mesmo os livros que citavam esse lugar foram esquecidos.  Os desejos foram se sobrepondo, a tonalidade da água modificando, os animais e espécimes vegetais se extinguindo. Até o solo foi se desconfigurando, assoreando os cursos d’água, erodindo a terra e dilacerando as fendas com a velocidade da água.
Não foi nenhuma atividade mística ou bruxaria que condenou esse lugar, mas, sim, a própria população que o devastou e – hoje- enxerga suas consequências. Essa cidade existe, pode ser Americana, no interior de São Paulo, ou São Francisco de Paula, no estado do Rio Grande do Sul. Não apenas essas cidades, mas tantas outras Brasil afora. Cenários de um processo conflituoso de antropização do meio natural.

*A presente fábula foi publicada na tese de doutorado "Consciência política e ambiente: a desproteção de parques municipais em Americana (SP) e São Francisco de Paula (RS)", defendida no Programa de Psicologia Social da USP. Para acessar a tese, clique aqui.


Um conto do hoje aqui.




sexta-feira, abril 03, 2020

Diversidade e Inclusão nas Organizações - EAD

Diversidade & Inclusão nas Organizações é uma pauta emergente na atualidade. Costumo dizer que, assim como no final do século XIX e início do século XX, as questões ambientais foram incorporadas nas culturas organizacionais das empresas mundo afora, desde a década passada as políticas de reconhecimento e identidades têm ganhado força tanto nas mídias quanto nas diversas instituições sociais, sejam as escolas, igrejas, poderes instituídos, família e empresas.

Diversidade refere-se ao que é diverso, diferente, variado e variedade; um conjunto variado; multiplicidade. Já Inclusão é ato ou efeito de incluir, torna-se parte; envolver-se num tecido social. Ou seja, quando falamos em Diversidade & Inclusão trata-se do reconhecimento e da convivência e coabitação de múltiplas identidades.  

A diversidade na sociedade contemporânea traz em seu bojo um conjunto de significados, desde aqueles que aprendemos nos tempos de escola, sobre a miscigenação dos povos; a biodiversidade, composta pela flora, fauna, todos seres vivos existentes na biosfera, em diferentes ecossistemas; bem como as construções atuais, a reinvindicações por reconhecimento e empoderamento de minorias políticas e sociais, sejam elas mulheres; pretos e pardos; pessoas com deficiência; idosos;  indígenas; lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, refugiados, dentre outras.

Vale ponderar que minorias políticas não é o mesmo que minoria numérica. Minoria política ou social são grupos marginalizados dentro de uma sociedade devido aos aspectos econômicos, sociais, culturais, físicos ou religiosos; aqueles que estão sub-representados nos espaços de poder.

Se pensarmos que determinadas empresas possuem a mesma quantidade de pessoas que uma cidade de médio porte no Brasil, bem como que passamos a maior parte do tempo de nossas vidas dedicados ao trabalho, devemos considerar que as empresas têm um papel essencial na transformação social e afirmação de direitos.

A valorização da diversidade é um ponto de partida para a justiça social. Assim, nesse curso, trabalharemos Direitos Humanos e diversidade; veremos algumas Leis vigentes no Brasil referente ao tema; as tendências na cultura organizacional e alguns indicadores de mercado, bem como como implantar um programa de D&I . Vamos lá? 

Assista ao vídeo para introdução no curso. 



Faça o curso EAD aqui.

Fábio Ortolano | Doutor em Psicologia Social, professor no SENAC SP, unidade Aclimação.