quinta-feira, janeiro 04, 2007

Meu Protesto



Ao entrar no ônibus no dia 21 de abril de 2006, data esta que se comemora a morte de Tiradentes, símbolo da independência de nosso país, me deparei com algo contraditório: Na data supracitada, o retrato de um menino sem perspectivas de vida apontava pra uma realidade de um país miserável que, ainda dependente, é afetado pela luta de classes.
Esse garoto deveria ter seus nove ou dez anos e mesmo tão jovem fazia seu trabalho como um adulto experiente com diversas habilidades, uma delas a boa comunicação que tanto encantava as pessoas ali presentes.A moça do banco à frente sorria para o menino, o casal de trás comentava sobre seu dinamismo, e eu refletia sobre a situação.
Sem dúvida seu trabalho é bonito e suas causas devem ser nobres, afinal, estamos tratando de uma criança, vítima de um sistema injusto e cruel. Mas as conseqüências do trabalho infantil são catastróficas, invisíveis, porém irreversíveis. Acabar com o sonho de uma criança é inadmissível, monstruoso, e ao fazer com que ela desde pequena tenha responsabilidades contribuímos para isso.
Já eram 23h e antes do ônibus sair o menino se oferece para carregar as malas dos passageiros.Objetos pesados para aqueles adultos, imaginem para uma criança. Seguimos a viagem e o menino veio falando sobre os serviços oferecidos pela empresa de transporte e no término de seu discurso passou pelo corredor vendendo gomas.Alguns por gratidão, outros por compaixão compraram as balas do garoto.Antes de descer dividiu parte de seus lucros com o motorista e como lhe avia sobrado algumas gomas, deu para o motorista e disse:
- Dê para seus filhos, o senhor os têm?
- Tenho sim, uma menina. Essa hora ela já deve estar dormindo.
Chocou-me aquela cena, notar que muitas vezes nós não percebemos o outro, como aquele motorista que não pensou que poderia ser sua filha naquele momento. Durante toda a viagem pensei numa forma de mostrar o quê pensava ao motorista, até lhe pedi uma caneta para escrever um bilhete, mas na hora de entregá-lo, me faltou a coragem. Covarde!
Talvez eu não devesse ser a pessoa certa para isso. Mas aqui faço meu protesto, por esse e por vários meninos e meninas que têm suas infâncias roubadas. O Brasil tem um projeto chamado PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), conveniado a projetos sociais de municípios que visam tirar crianças da rua e do trabalho precoce. Vale lembrar que o apoio da sociedade é muito importante, desde a conscientização dos riscos até a ajuda de organizações que lutam contra esse mal.
Fábio Ortolano

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