domingo, agosto 07, 2011

Silêncio?

Duas forças contrárias, uma a outra, me dominaram ao escrever esse artigo. Uma que me orientava não por a mão sobre o teclado e outra que insistia em dar seqüência às reflexões postas em tantos jornais e portais virtuais.  
A primeira delas estruturava-se por uma das referencias que tenho sobre sexualidade. Foucault, filósofo francês, ao tratar da história da sexualidade nos relata que as sociedades ocidentais, até colocarem o sexo em discurso, a partir da confissão e dos diagnósticos clínicos, institucionalizados, jamais teriam silenciado tanto a sexualidade como nesse momento. Quando mais se falou em sexo, mais ele foi reprimido.
A outra força lembrava-me da perspectiva construtivista, a qual enxerga a linguagem e o discurso como forma de produção de sentidos, significados e, conseqüentemente, de compreensão das coisas e dos próprios sujeitos.
A segunda me fora mais enfática e, assim, trago mais algumas reflexões sobre tal fato polêmico, pauta das mídias locais e até internacionais. Um vereador de São Paulo, que nem citarei o nome, pois tais assuntos em voga me soam como levante de campanha, propôs um projeto de lei que institui o dia do orgulho heterossexual.
De fato, as convicções e visões de mundo são pessoais e jamais devem ser desqualificadas por outrem. Aliás, respeitá-las é um princípio básico ao viver em sociedade civilizadamente. Só é preciso ter consciência e cuidado quando nossos posicionamentos afetam outras pessoas, quando silenciamos e invisibilizamos sujeitos.
Não tem lógica a proposta do vereador, tão pouco um movimento manter-se quieto ante tal fato. Um movimento que milita diariamente nas ruas pelo simples direito de manifestar a sexualidade, por sobreviver, que se institucionaliza em grupos de estudos e de apoio, que é composto por educadores, jornalistas, psicólogos, partidários, engenheiros, advogados, jovens, adultos, idosos e em tantos outros papéis, não podia manter-se calado. 
Não sejamos levianos, o movimento não é contra qualquer afirmação, e sim contra a banalização de políticas públicas e ações que visam uma transformação social, de uma realidade opressora. Datas estabelecidas para o orgulho de minorias são para o reconhecimento destas enquanto sujeitos políticos, existentes, com voz e espaço.
Propor e aprovar o dia do orgulho heterossexual é o mesmo que instituir o dia da consciência branca, dos fisicamente perfeitos, dos homens, e dessa forma, manter invisíveis minorias excluidas do poder e dos direitos de cidadania – mulheres, negros, homossexuais, portadores de necessidades especiais, etc. São anos de discussão, debate e militancia banalizados por ações pontuais.  E estes jamais seriam desnecessários, sobretudo diante de fatos como o ocorrido.
Afinal, qual é, ainda hoje, a porcentagem entre homens e mulheres que ocupam os espaços públicos, qual é a proporção de brancos e negros que compõem as classes sociais, quantos livros em braile temos em nossas escolas e quantos são os heterossexuais e homossexuais que apanham por demonstrarem afeto pelo sexo oposto ou similar?
Não se trata de uma imposição ou perseguição ideológiga, mas uma reação à banalização das práticas de agrupamentos políticos. O movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais, assim como os de outras minorias, não aclama por qualquer silêncio e sim pelo direito de não manter-se calado.

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