quarta-feira, março 23, 2016

Parque Natural Municipal da Gruta: Morrer para germinar?

Fotografia. Joviniano Netto, 2015. 
Caros leitores, como podemos aceitar essa postura destrutiva que nos reduz a dicotômica parte contraposta à natureza? Será preciso morrer para germinar?  Essa nossa renúncia coletiva diz de uma forjada divisibilidade entre nós, humanos, e o meio ambiente.  E dessa forma, morremos todos.  
Há anos acumulamos uma série de denúncias, processos, requerimentos, projetos, trabalhos e textos acerca do Parque Natural Municipal da Gruta. Paralelamente, como temos mostrado por meio de registros fotográficos compartilhados nas redes sociais, transformamos a maior unidade de conservação de Americana num lixão a céu aberto. O Parque, ainda resquício de Mata Atlântica e cenário ímpar por sua formação geológica e nascentes, é destruído pela população e obras públicas. 
Os crimes ambientais são graves e vergonhosos para uma cidade de médio porte como Americana. Construção de logradouros, desmembramentos de lotes nos arredores, despejo de esgoto e entulho na área, erosão, ocupações irregulares, desmatamento do resquício de Mata Atlântica, mortalidade da fauna local e problemas de saúde pública. 
Nos últimos meses, junto ao coletivo Amigos da Gruta, temos articulado uma série de iniciativas no Parque, inclusive pressionando o poder público a cumprir o básico de suas responsabilidades. O executivo tem feito algumas ações, a passos lentos e limitado.  E ainda alguns políticos tentam aproveitar a carona. 
Bem, eis que em meio aos trabalhos de conscientização ambiental, pesquisa, encontros e conversas com as comunidades do entorno, nas últimas visitas, identificamos novos focos de despejo de esgoto sem tratamento no local. O Departamento de Água e Esgoto parece aguardar a construção da nova estação de tratamento da Balsa, uma obra parada. Lastimável tamanha irresponsabilidade ambiental, um crime. Nesse cenário, me assusta a indiferença do Ministério Público que, mesmo recebendo nossas denúncias, não move qualquer ação por conta do mau gerenciamento do Parque. As autoridades públicas, sobretudo do DAE, devem ser responsabilizadas. 
Com efeito, infelizmente, Americana não merece o título de município Verde-Azul. Aliás, surpreende termos tido esse selo, haja vista o descarte de esgoto sem tratamento numa área com afloramentos do Aqüífero Tubarão, sedimentação de arenito e queda d’água de 18m de altura. Independentemente dos problemas e reformas na estação de tratamento de Carioba, bem como os bons projetos de educação ambiental, como alegam os técnicos, a titulação não pode ser conferida diante dessa negligência grotesca com a principal unidade de conservação de proteção integral da cidade.   
Como diria Gilberto Gil, na música Drão, há que se plantar nalgum lugar, ver ressuscitar no chão, nossa semeadura. 

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