© AFP 2018/ Nelson Almeida |
Involuntariamente, eu acompanho o
Bolsonaro desde 2011, quando, inclusive, escrevi um texto aqui sobre as semelhanças dele com um parlamentar estadunidense da década de 1970. Desde
sempre medíocre, mentiroso e antiético.
Bolsonaro representa esse projeto
de violência e privilégios que sustenta o país mais desigual do mundo e eu
explico o porquê.
Primeiro, sua perversidade moral:
diante de um avanço progressista, em 2011, ele inventa uma série de mentiras
sobre um material contra homofobia do Ministério da Educação e, em 2018,
reforça a mentira em rede nacional, usando uma publicação estrangeira. Defende
abertamente a tortura, a violência contra LGBTs e mulheres, inclusive fazendo
apologia ao estupro, e já se referiu aos quilombolas e negros como vagabundos,
classificando-os como gados. Tudo isso gravado e compartilhado em mídias
sociais. E, pasmem, dissimula.
Segundo, a
conveniência econômica. Por que ele faz sinal de tiro com crianças de colo? Pois,
representa os interesses das empresas armamentistas. A liberação das armas,
além de acirrar a violência pública e matar pessoas inocentes, representa um
mercado promissor e altamente lucrativo às empresas privadas. Também recebe apoio de empresários, como o líder do Grupo Havan, que coage funcionários a votarem em seu
candidado. Um grupo em franca expansão, congregando mais de cem lojas de
departamentos, bem como outros empreendimentos de geração de energia elétrica,
postos de combustível e hotelaria. De fato, não está preocupado se é o PT que
estará no poder, pois mesmo na gestão desse partido o grupo ascendeu, e muito,
trata-se dos interesses em otimizar os lucros, precarizando o trabalho e as
leis trabalhistas. E Bolsonaro já votou à favor da reforma trabalhista de Temer.
Terceiro, a
questão fundiária. Ele defende a revogação das terras indígenas e a destruição
de Unidades de Conservação. Estamos aniquilando culturas tradicionais e destruindo ainda mais biomas ameaçados de
extinção, ecossistemas da Mata Atlântica e Cerrado, bem como a maior floresta do mundo, a Amazônia, perdendo espaço para soja e
alimentos transgênicos e ele ainda defende a revogação de áreas protegidas. Ele não está sozinho, as empresas nacionais e internacionais de mineração estão
com ele, o apoiam, e os impactos nós vimos recentemente com o maior crime ambiental da
nossa história, a avalanche de lama com rejeitos de minérios, causada pelo
rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG).
São as mesmas
disputas que se reproduzem desde o Brasil colônia e hoje são camufladas numa
retórica de mudança. Bolsonaro se diz diferente dos outros políticos. Ele tem
27 anos de vida política, quase 03 décadas e nunca fez qualquer mudança, apenas enriqueceu. Nunca fez qualquer projeto de lei anticorrupção,
nunca! Em tantos anos aprovou dois projetos, dois! E mais, confessou ter recebido 200 mil da JBS, é acusado de ter funcionária fantasma,
receber propina de campanha, de nepotismo e usou auxílio moradia tendo com
casa própria. Reproduz a herança política junto aos seus familiares e o
fisiologismo político, ou seja, toma decisões em benefícios privados ao invés
do bem comum. Não à toa, se sustenta nas bancadas mais fisiologistas do
Congresso Nacional, a da bala, do agronegócio e da bíblia, a velha tríade do
poder.
Imagem do clipe Perfeição, Legião Urbana. |
Escrevendo esse
texto, escutei fogos em comemoração ao resultado da eleição no primeiro turno, na qual ele foi o presidenciável mais votado.
Lembrei da música “Perfeição”, da Legião Urbana. “Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos.
Tudo que é gratuito e feio, tudo o que é normal. Vamos cantar juntos o hino
nacional (...) Vamos festejar a inveja, a intolerância, a incompreensão. Vamos
festejar a violência e esquecer a nossa gente que trabalhou honestamente a vida
inteira e agora não tem mais direito a nada”.
Para saber mais:
É #FAKE que livro citado por Bolsonaro no JN é o que aparece com carimbo de escola de Maceió (G1)
https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2018/09/04/e-fake-que-livro-citado-por-bolsonaro-no-jn-e-o-que-aparece-com-carimbo-de-escola-de-maceio.ghtml
Mineradoras, agronegócio, armas e 'indústria da fé' bancam Bolsonaro (Rede Brasil Atual)
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2018/10/mineradoras-agronegocio-armas-e-igrejas-financiam-bolsonaro
Bolsonaro ensina criança imitar arma com a mão (O Globo)
https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-ensina-crianca-imitar-arma-com-mao-22905093
Ao explicar R$ 200 mil da JBS, Bolsonaro admite que PP recebeu propina: “qual partido não recebe?” (Jovem Pam)
https://jovempan.uol.com.br/programas/ao-explicar-r-200-mil-da-jbs-bolsonaro-admite-que-pp-recebeu-propina-qual-partido-nao-recebe.html
Análise da emergência do comportamento fascista. Luiz Eduardo Soares, antropólogo, cientista político e escritor.
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