“Sete quedas por nós passaram e
não soubemos amá-las”, assim dizia o texto de Carlos Drummond de Andrade,
publicado em 1982 no Jornal do Brasil, uma crítica à construção da hidrelétrica
de Itaipu e a destruição do Parque Nacional das Sete Quedas.
Marco no movimento ambientalista
no Brasil, a resistência contra o represamento do Rio Paraná nos revelou um
ideal equivocado de progresso, no qual outras leituras desenvolvimento local,
relação ser humano e natureza e proteção da biodiversidade foram solapados e
submersos por uma visão hegemônica de mudança social e intervenção no meio.
Represou-se toda potência turística, riqueza natural e força d’água para
simplesmente tornar-se energia.
Embora o fato tenha ensinado
muito, enquanto brasileiros, aprendemos pouco, haja vista a reprodução das
mesmas práticas nos dias de hoje. Assusta-nos os desastres ambientais em
Mariana e Brumadinho, mas não olhamos pro nosso próprio quintal. Em Americana,
assistimos à fragmentação da maior área natural pública, o Parque Natural Municipal da Gruta, uma unidade de
conservação, frente à construção de outro logradouro para o fluxo de carros, mercadorias
e pessoas alienadas em seu cotidiano e experiência do espaço-tempo.
A obra de interligação dos bairros Parque das Nações e Parque da Liberdade, pela Av. Florindo Cibin, representa o soterramento e transposição de
terra e cursos d'água, extração vegetal, ameaça aos pequenos mamíferos que ali resistem e
prejuízos irreversíveis à paisagem e integralidade do parque, tudo referendado por interpretações frias de burocratas alheios à importância da área e suas minuciosidades.
Curiosamente, as águas das sete
quedas do Parque da Gruta, hoje ainda mais ameaçadas, caem no Rio Piracicaba,
escoando no Rio Tietê, que por sua vez deságuam no Rio Paraná e encontram as
sete quedas submersas.
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