quarta-feira, maio 18, 2011

Ser Homem

Estimado senhor cujo tempo lhe confere riqueza, seu tesouro é da maior valia que alguém pode carregar, é como aquele do baú dos sonhos infantis e até dos carvalhos que refinam a bebida bruta. Arrisco dizer-lhe o que para mim é preciso para ser homem.

Para ser homem é preciso ser homem e ser mulher, perceber quão belo e grandioso é o universo feminino, assim como o masculino. Notar que as construções de gênero, mera produções culturais, nada mais são que traços de um desenho do que a ser o ser humano, sem qualquer distinção de poder, soberania e papel. Uma mulher, por exemplo, pode ser mãe e ser pai, ser beata ou vadia, caseira ou mundana, ser dona de casa ou líder de uma nação, que ainda assim, não deixará de ser mulher. Mulher que tem desejos, anseios, medos e sonhos. O homem pode ter a voz grossa ou tê-la mais fina, pode ser rude ou sensível, pode ser pai e mãe, pode gostar de homem e pode gostar de mulher que ainda assim será homem. Homem com desejos, anseios, medos e sonhos.

Os filósofos são sábios e, certamente, o maior ensinamento que podem nos deixar é a inspiração em pensar. Pensar não apenas nas palavras, mas em tudo aquilo que refletimos numa mesa de bar ou com a cabeça debruçada no travesseiro e objetivamos em códigos que, provavelmente somente nós, seres humanos, podemos decodificar.

Assim, tão importante quanto ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro, é pensar neles. Pensar nos meninos e meninas que nasceram nos ventres próximos, mas também naqueles que tiveram como progenitora uma desconhecida, para que todos tenham o carinho de alguém que distante ou próximo sempre revele um entusiasmo no contato com o outro. E confesso ser admirável ver o senhor ao telefone seja com seus filhos ou com os amigos.

É preciso pensar nos ipês, nas paineiras, nas amoreiras, nas jabuticabeiras, nos limoeiros, e também nas orquídeas, nas bromélias, nas gramíneas, nos cupinzeiros, em tudo como um ciclo, do qual sem qualquer elemento não sobreviva. E não só isso, é preciso regá-los como o senhor faz às tardes no pôr do sol.

Escrever um livro é fácil e não precisa ser impresso, encadernado e catalogado. Um livro precisa de palavras, de pensamento, de um estalar em sonhos de insônia, que com sorte sejam registrados num papel. Mas mesmo que não sejam, não importa, imaginemos quantas obras devam existir na memória dos filósofos, historiadores, psicólogos, pedagogos, etc. Basta escrever, pois como diria Darcy Ribeiro, escrever é ter coisas a dizer.

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