segunda-feira, maio 27, 2013

Fragmentos

(...) É que o aburguesado não suporta ver-se apartado das elites, seja qual for. Se eu acreditasse nos pecados capitais diria que vários deles são muito gulosos, não por nutrição e por esquecerem-se dos miseráveis que passam fome, mas por não estarem nunca satisfeitos, serem exagerados, demasiadamente demagogos. Querem sempre mais, consumo cultural, intelectual, tudo banal.

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É sintoma físico. Ultrapassa a alma, penetra a carne, coopta o Eros e transpassa a pele. É chagas ao deitar, pânico ao levantar. Invade, ocupa e hospeda-se sem que peça, atravessa e dispersa. É nó que sufoca, provoca e tira apetite, difícil de desatar. Prende-nos e liberta-nos em ideias, planos e sonhos. É grito sublimado em suspiro, pulsão de vida e morte. Um querer avassalador e finito. É simples apaixonar-se. Um contato íntimo, mesmo que subjetivo, entre o Eu e o Outro.

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Livre pensar e agir para nossa pequena, quase que insignificante, prática no mundo. Quiçá alçar pelo menos o reconhecimento e conquistar alguns dos frutos daquilo que pretendemos de concreto, pois os sonhos e a ideologia nos saem caros de mais quando um rio já poluído nos trava, mesmo quando almejamos o mesmo destino. Bem dizia Kant, que a liberdade não está dada, ela se constitui em processo. Livre pensar e agir nesse mundo do reconhecimento, atravessado por tantas ideologias que nos travam e nos deixam sem destino.

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Não toca mais os poros, os pelos, o peito. Toca na rádio, no som, na alma. Soa sino, sua pele, soa a sua melodia, sem que interpele e fale. Escuta-se e sente-se.  

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