(...) É que o aburguesado
não suporta ver-se apartado das elites, seja qual for. Se eu acreditasse nos
pecados capitais diria que vários deles são muito gulosos, não por nutrição e
por esquecerem-se dos miseráveis que passam fome, mas por não estarem nunca satisfeitos,
serem exagerados, demasiadamente demagogos. Querem sempre mais, consumo
cultural, intelectual, tudo banal.
***
É sintoma físico.
Ultrapassa a alma, penetra a carne, coopta o Eros e transpassa a pele. É chagas
ao deitar, pânico ao levantar. Invade, ocupa e hospeda-se sem que peça,
atravessa e dispersa. É nó que sufoca, provoca e tira apetite, difícil de
desatar. Prende-nos e liberta-nos em ideias, planos e sonhos. É grito sublimado
em suspiro, pulsão de vida e morte. Um querer avassalador e finito. É simples
apaixonar-se. Um contato íntimo, mesmo que subjetivo, entre o Eu e o Outro.
Livre pensar e agir para
nossa pequena, quase que insignificante, prática no mundo. Quiçá alçar pelo
menos o reconhecimento e conquistar alguns dos frutos daquilo que pretendemos
de concreto, pois os sonhos e a ideologia nos saem caros de mais quando um rio
já poluído nos trava, mesmo quando almejamos o mesmo destino. Bem dizia Kant,
que a liberdade não está dada, ela se constitui em processo. Livre pensar e
agir nesse mundo do reconhecimento, atravessado por tantas ideologias que nos
travam e nos deixam sem destino.
***
Não toca mais os poros, os pelos, o peito. Toca na rádio, no som, na alma. Soa sino, sua pele, soa a sua melodia, sem que interpele e fale. Escuta-se e sente-se.
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Não toca mais os poros, os pelos, o peito. Toca na rádio, no som, na alma. Soa sino, sua pele, soa a sua melodia, sem que interpele e fale. Escuta-se e sente-se.
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