terça-feira, junho 14, 2011

Notas do velho guerreiro Lampião

Em tempos que o tão criticado folhetim televisivo desvenda o cangaço como ato heróico, vale lembrar o quanto o coronelismo ainda assola nosso povo e o porquê ele ainda existe. Não apenas nos sertões e pelas vastas terras do mundão a fora, e sim em qualquer parte do mundo, na cidade vizinha, ao nosso lado em nosso quintal.


Os coronéis estão também nas metrópoles, nas cidades interioranas dos estados da federação. Gozam das posses que seus capatazes jamais terão direito um dia. Fartam-se da ignorância daqueles que optam pelo consentimento ao invés da resistência como as dos broncos e delicados homens cangaceiros.


E mais difícil que acreditar na existência dos sujos e injustos coronéis é vislumbrar e encontrar os guerreiros da justiça social que busquem a verdade. Não para aplicá-la a todos, simplesmente para não aceitar interpretações do outro.


A cultura sempre foi perversa e dolorida aos olhos daqueles que dentro de qualquer concepção não enxerga a ausência da verdade incontestável. É cômodo não buscá-la para si. Daí, infelizmente, a realidade sempre será refém daqueles que a conta.


Assim, não será a ciência, tão pouco a religião que encontrarão a inexistente resposta e darão sentido a tudo. Através delas, apenas decodificamos a vida no/para o tempo ao qual pertencemos. Aliás, seria até prepotência acreditarmos que já encontramos uma verdade conclusiva. E mesmo que os códigos decifrados sejam da mais perfeita definição, ainda assim, estarão passíveis a contestações e novos sentidos para outros povos e comunidades.


Segue uma nota do extinto LAMPIÃO DA ESQUINA, arma fina que os delicados homens brutos da metrópole usaram em tempos de ditadura militar no Brasil.


“As lutas das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos índios, dos prisioneiros – categorias historicamente silenciosas – têm nos ensinado que a história tem sujeitos e objetos, aqueles que falam e aqueles de quem se fala, mas também que os sujeitos variam ao longo desse processo. Estas lutas têm ainda nos ensinado que o conhecimento pode ser sinônimo de poder e que a fala torna visíveis questões concretas mas não reconhecidas, não registradas, portanto sem existência histórica. Essa fala, no entanto, ao mesmo que revolucionária é conservadora por ser parte de uma linguagem, desta mesma linguagem que por tanto tempo manteve invisíveis as categorias de pessoas que agora começam a tentar um auto reconhecimento tentando afirmar-se como sujeitos de sua própria história(...)” (Mariza, LAMPIÃO DA ESQUINA, 25 DE JUNHO DE 1978).


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