segunda-feira, setembro 26, 2011

Realidades desconexas



Os gritos preenchidos com palavras de ordem me faziam refletir sobre tantas coisas presentes naqueles encontros. “A UNE somos nós, nossa força e nossa voz” foi a frase que mais me marcou no 9º Congresso da UEE – SP (União Estadual de Estudantes de São Paulo) e no 51º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudante), ambos realizados em 2009.  Não sei ao certo se todos dirigiam suas falas e gritos a determinados atores, inclusive, suponho que não, pois nem todos estavam ali pelo mesmo propósito.
Assim, me perguntava quem seria o interlocutor de cada agrupamento ali presente e a quem se dirigiam os discursos. De um lado, era vista uma maioria esmagadora de representantes da União da Juventude Socialista (UJS), boa parte deles filiados e simpatizantes ao PCdoB. Estes eram, sobretudo, de universidades privadas. Do outro, pude notar alguns coletivos que se apresentavam como Frente de oposição à atual UNE - alienada, pelega e partidarizada. Estes eram compostos, principalmente, por alunos de universidades públicas.
Mais evidente que a escolha das bandeiras do movimento, que a eleição dos novos representantes, que a discussão sobre educação, política e mudança social no país era a briga de poder e a ausência de diálogo entre as duas grandes frentes que se chocavam naqueles espaços. Os protagonistas em cena revelavam a realidade mais comum vivenciada em nosso cotidiano, os conflitos e opressões de classe.
Se por um lado pouco politizados eram os colegas da UNE e da UJS que haviam passado nas Universidades e Faculdades Brasil a fora arrebanhando delegados sem qualquer discussão e reflexão para os congressos supracitados, por outro não me soava legitimo, naquela conjuntura, o discurso de uma minoria elitizada de estudantes de universidades públicas que se enxergavam como os detentores da sabedoria e ignoravam e invisibilizavam uma realidade ali presente.
Nem todas as ovelhas eram fies a seus pastores e podiam, sim, contribuir para uma transformação social, mesmo sem saber o caminho. Além do desmantelamento dos reais propósitos do movimento estudantil aferidos pela UNE, me incomodava o tom de superioridade em tratar da verdade daqueles que, em condição de elite, se julgavam conhecedores de uma verdade para todos.
Bem, há tantas coisas a se pensar diante desse relato que nem sei por onde começar, contudo, três questões me parecem de suma importância: O que é educação? E como ela é construída no Brasil? Igual e justa para todos?
Lendo uma propaganda de certa universidade privada em que apontam um ranking, o qual a posiciona entre as melhores do Brasil, pensei: Por mais tortuosas que sejam as contestações sobre um ensino privado, elas sempre serão bem vindas. Pois a educação deve estar o mais distante possível do mercado, para que não se transforme em mercadoria, como em muitos casos já acontece, por exemplo, na matéria publicitária.
Aliás, nem mesmo as universidades públicas e seus pupilos devem estar atentos e presos a classificações e rankings e sim preocupados com a educação e busca do saber para toda a sociedade e não apenas para si. Devem, ainda, pensar na mudança social sem se olhar como protagonistas e donos da verdade.  É preciso que conectemos as realidades desconexas, se é que em algum momento elas estão dissociadas.  

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