sexta-feira, setembro 30, 2011

Inconstância

Não é porque não te quero por um momento que não te desejo para a vida inteira. Talvez eu sempre precise de um tempo só meu. Não quero um amor finito a um único tempo, minhas ambições afetivas são atemporais. Meu amor, eu desejo e quero reinventá-lo para que seu tom não seja demasiadamente marcado em mim, pois não quero uma pintura manchada e sim um desenho em cada detalhe, afinal só uma obra de arte fica para a eternidade.
Eu até posso buscar e vislumbrar outras telas, outros corpos, em que eu transcreva e transponha em traços abstratos meus sentimentos, contudo, nenhuma delas será tão completa quanto você. Em nenhum deles haverá espaço suficiente para que eu registre os contornos mais fortes em que os românticos possam se identificar.
Não quero uma obra feita, acabada por suas perspectivas de retoques finais. Eu quero um esboço de amor, um rascunho meu, nosso. Não suponha que um amor diferente seja menor. As medidas de um sentimento jamais serão passíveis de estabelecermos justaposições. E não julgue minhas intenções particulares exclusivas a mim, pois elas são nossas e buscam um amor verdadeiro desvinculado de padrões e projetos de outrem.
Alguém que a vida inteira sonhou, ao encontrar a razão, não poderia deixar de conduzir a fantasia ao real. Por isso, não me cobre mais que o amor verdadeiro, livre, liberto. Eu quero um sonho em carne e osso. E ter, para nós, um amor planejado aos moldes dos outros é o mesmo que ignorarmos sua essência e transformá-lo em cópia. Seria o mesmo que reduzi-lo a inverdade de um sonho inventado. 
Assim, promessas jamais serão condizentes com a liberdade. O amanhã já é muito para garantia de que estaremos presos um ao outro. O amor deve estar salvaguardado hoje, como o carinho e a conquista de agora. Só assim, no futuro, seremos os artistas de nossas próprias telas e poderemos tê-las como nossas.


LINIERS

Nenhum comentário: