domingo, setembro 18, 2011

Violência doméstica


             Caro leitor, novamente falarei sobre temas que causam repulsa, para alguns, sobretudo quanto a abordagem. Não que eu desconsidere o desconforto destes, contudo, diante de um cenário de violência em que vivemos é preciso refletir sobre as causas que o constitui. De maneira que, juntos tentemos entender algumas das realidades que nos atravessam. Hoje discorrerei sobre a violência doméstica e uma das perspectivas de sua origem.
            Fico admirado com a quantidade de mulheres que conheço e que sofreram ou sofrem violência dentro de suas próprias casas. Em quase todos os lugares que trabalhei, sempre tive uma colega que me relatava casos de abuso por parte de seus companheiros. Na última vez que estive em Sorocaba, soube, através de um amigo, que uma colega nossa da universidade tem sido agredida pelo parceiro. Talvez essas mulheres são parte dos números que apresentarei em seguida. Digo talvez, porque não sei se elas, em algum momento, denunciaram seus agressores.
            De acordo com a Agência Brasil, de abril de 2006 a junho desse ano, em apenas cinco anos de vigência da lei Maria da Penha, foram registrados 435 MIL relatos de violência. Só nesse ano foram mais de 293 mil atendimentos prestados pela Central de Atendimento à Mulher (Disque 180). Tratando das formas de agressão a partir do montante total, aproximadamente, 141 mil referem-se à violência física, 62 mil à brutalidade psicológica, 23 mil à agressão moral e 05 mil ao abuso sexual.
            Bem, o que faz delas reféns de seus próprios cônjuges? Por que a dificuldade em resistir? Quais são os fatores que tornam esses homens tão violentos? Pra mim, a resposta é a construção de uma cultura machista. Uma cultura baseada em poder, crenças e costumes. Perversa não apenas à mulher, mais ao homem também. Vítimas passivas e ativas de uma lógica opressora. E cabe a nós não negligenciarmos tais dados.
            Pensemos pela ótica religiosa, sendo ela parte de nossa cultura. Num país cujos valores do cristianismo são pregados e proclamados por todos os cantos, e que, para alguns, tratam-se de verdades absolutas, devemos refletir como tal crença cotidianamente e silenciosamente vai enraizando-se em nossa realidade.
            "Vós, mulheres sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.” (Efésios 5:22-24)
            "O homem não deve cobrir a cabeça, porque ele é a imagem e o reflexo de Deus, a mulher, no entanto, é o reflexo do homem. Porque o homem não foi tirado da mulher, mas a mulher do homem. Nem o homem foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem." (1 Coríntios 11:7-9)
             Pensar como tais passagens bíblicas se contextualizam em nosso dia-a-dia parece-me uma tarefa complexa, conseqüentemente, nada fácil. Contudo, não tenho dúvida quanto às formas em que elas se materializam e de que se faz necessário o exercício de contestá-las. Entendo que trechos soltos não traduzam o sentido de uma realidade, mas não podemos desconsiderar que eles são parte dela.
            Embora eu vislumbre algumas hipóteses, pergunto-me o porquê as igrejas não tratam ou pouco falam de uma violência tão comum nas famílias brasileiras. Afinal, das 435 mil mulheres que relataram a violência nos últimos anos, 72% de seus agressores são seus cônjuges. Gostaria que as igrejas se preocupassem e discutissem, em seus cultos e encontros, o bem estar social, a saúde física e mental, bem como as múltiplas realidades de todos os sujeitos, enquanto pessoas humanas.

            A lei 11.340 – “Maria da Penha” – dita, em seu Art. 2o, que “Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social”.

               

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